Quisera eu, tal qual os mestres antigos,
Com voz suave e pluma delicada,
Cantar o amor em versos tão prolixos,
Num doce afã de estrofe bem lavrada.
Mas quando a pena toca o pergaminho,
Escorre o tinto em manchas de desgosto;
O verso puro vira meu caminho,
E o que era flor transforma-se em despojo.
Não falo em rosas, nem em céu bordado,
Nem no suspiro que o amor conduz
Só sei do amor que vem ensanguentado,
Do fogo ardente que não tem luz.
Oh, maldita mão que não refreia
A dor que insiste em brotar no papel!
Em vez de canto, só resta a queixa,
E o meu amor neutro, obscuro, cruel.
Mas talvez seja esta a sina dura
Do coração que em sombras se debate:
Cantar o amor na própria amargura,
E em vez de flor, escrever arte.
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