Maria da Penha

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sábado, 7 de junho de 2025

A felicidade tóxica

Vivemos em uma sociedade que venera a felicidade como um produto a ser exibido, não como um estado genuíno de ser. Nas redes sociais, nos ambientes de trabalho e até mesmo nos círculos pessoais, há uma pressão constante para demonstrar alegria, sucesso e satisfação, mesmo quando, por dentro, tudo parece desmoronar. Essa felicidade tóxica, enraizada na cultura corporativa e no individualismo moderno, nos obriga a mascarar nossas verdadeiras emoções, como se sentir triste, cansado ou frustrado fosse um fracasso pessoal.  

Empresas muitas vezes perpetuam essa ilusão, vendendo discursos motivacionais vazios como "pensamento positivo" e "resiliência infinita", enquanto ignoram condições de trabalho desgastantes, pressões absurdas e a saúde mental dos funcionários. É como se bastasse querer ser feliz para que a felicidade surgisse, magicamente, independentemente das circunstâncias. Pior, quem ousa reclamar ou demonstrar vulnerabilidade é visto como "negativo" ou "pouco profissional".

Essa obrigação de parecer sempre bem, de ter uma vida "instagramável", mesmo quando tudo está em frangalhos, é uma das formas mais cruéis de autoanulação. Por trás de sorrisos forçados e frases como "tudo ótimo", escondem-se pessoas exaustas, ansiosas e solitárias, sufocadas pelo medo de não corresponder ao padrão inalcançável de felicidade permanente.  

A verdade é que a vida não é linear. Há dias de luz e dias de escuridão, e nenhuma emoção deve ser negada ou envergonhada. Recuperar a autenticidade, permitir-se sentir raiva, cansaço, medo ou simplesmente um vazio sem explicação, é um ato de resistência contra essa tirania da positividade forçada.  

Felicidade de verdade não é um palco onde se representa perfeição. É poder existir, com todas as contradições e dores, sem precisar mentir para si mesmo e para o mundo. E, acima de tudo, é entender que estar mal não te faz fraco, te faz humano. 

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