Maria da Penha

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sábado, 7 de junho de 2025

O humano além da máquina

Um professor não se limita a transmitir informações, mas constrói significados que ecoam por toda a vida do aluno. Enquanto a inteligência artificial opera dentro de parâmetros previsíveis, baseados em dados e padrões estatísticos, o verdadeiro mestre atua como um mediador capaz de transformar uma simples frase em um momento de iluminação intelectual. Uma citação de Nietzsche pode ser apenas um trecho memorizado por um algoritmo, mas quando entregue por um educador apaixonado, dentro de um contexto histórico e existencial, ela se torna uma chama que incendeia o pensamento. Como dizia Freire, a educação não é depositar conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção.  

No entanto, é preciso distinguir o professor por vocação daquele que apenas ocupa a sala de aula como cabide de emprego. Infelizmente, muitos hoje exercem o magistério como complemento salarial, sem engajamento real com o ensino. Preparam aulas, quando o fazem, de forma apressada, nos intervalos de outras ocupações, e entregam o conteúdo sem paixão ou profundidade. Esse cenário contrasta radicalmente com a atuação do verdadeiro educador, aquele que abraçou o magistério não por falta de opção, mas por missão. Como afirmava Gramsci, todo homem é um intelectual, mas apenas alguns assumem o papel de organizadores da cultura, e esses são os professores de verdade.  

O professor por vocação imprime marcas que transcendem o conteúdo programático. Seus trejeitos, paixões e até mesmo suas contradições tornam-se referências inconscientes para os alunos. Um gesto, uma pausa dramática antes de uma revelação científica, ou mesmo uma frase irônica podem ser imitados e carregados por anos, como heranças invisíveis da formação. Sartre destacava que o ser humano é moldado não apenas pelo que aprende, mas por como é ensinado, e nesse processo, a figura do professor autêntico é insubstituível.  

A influência de um mestre dedicado pode redirecionar vidas, inspirando profissões e despertando vocações. Um aluno que presencia um professor debater com fervor um texto de Foucault, ou que vê seus olhos brilharem ao explicar uma equação de Einstein, pode encontrar ali a centelha de sua própria trajetória. Jung argumentava que o verdadeiro aprendizado ocorre quando há uma conexão simbólica entre mestre e discípulo, algo impossível para quem está na sala de aula apenas cumprindo tabela.  

Por fim, o professor verdadeiro não apenas ensina, ele testemunha. Sua presença é uma afirmação de que o conhecimento não é apenas utilitário, mas também ético e afetivo. Hannah Arendt defendia que a educação é o espaço onde as gerações se encontram para transformar o mundo. Essa transformação exige mais do que respostas corretas; exige entrega, paixão e compromisso com o futuro. Enquanto a IA pode informar, apenas o professor por vocação pode formar, porque educar, em sua essência, é um ato de amor pela humanidade.

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