Maria da Penha

Maria da Penha

sábado, 7 de junho de 2025

Estatística era o futuro e eu avisei! A era da IA chegaria e agora eles correm atrás do que desprezaram!

Eu carreguei a estatística não como uma disciplina, mas como uma lente através da qual o mundo desvelava seus segredos mais íntimos. Durante anos, mergulhei nas entranhas dos dados como um arqueólogo de cifras, escavando verdades que poucos se davam ao trabalho de buscar. A universidade em Coimbra foi meu mosteiro, as equações minhas orações, e o rigor científico minha única fé. Voltei ao Brasil trazendo nos olhos a chama que acende mentes, mas encontrei um país que prefere a penumbra do conformismo.  

Levei para a sala de aula não fórmulas, mas ferramentas para decifrar o futuro. Ensinava estatística como quem ensina a ler, porque no fundo era isso: alfabetizar para uma era que já nascia sob o signo dos algoritmos. Mas os olhos que me fitavam viam apenas uma disciplina obrigatória, um obstáculo a ser contornado. A instituição, por sua vez, tratava o conhecimento como um produto a ser embalado em formato EAD, esvaziado de substância, reduzido a vídeos assistidos no intervalo entre um like e outro nas redes sociais.  

Eu gritava contra o vazio. Alertava que estávamos criando uma geração de analfabetos funcionais em dados, justamente quando o mundo exigiria fluência nessa linguagem. Meu discurso ecoava em paredes surdas. Fui tratada como a velha rabugenta que não se adapta ao progresso, quando na verdade eu era a única apontando para o abismo que se aproximava.  

O tempo, esse juiz implacável, provou minha tese com uma ironia amarga. A instituição que me chamou de retrógrada foi engolida pelo mercado que não perdoa a estupidez. Meus ex-alunos correm atrás de cursos online tentando aprender o que desprezaram em sala de aula. E eu? Cansei. Aposentei-me. Deixei de lutar contra moinhos de vento. Mas quando vejo o frenesi atual em torno da IA, sorrio com a amarga satisfação de quem sabe ter estado certa décadas antes da moda.

A verdadeira loucura não foi meu suposto radicalismo, mas a cegueira coletiva de um sistema educacional que formata mentes para o passado e, vivem em reuniões vazias, reuniões que informam, pois desconhecem o conceito de comunicação, mas são mestres em informar sobre inovação, sem ter a mínima noção de como se inova, achando que inovação é algo que cai do céu, sem saber que é uma disciplina profundamente complexa. Agora colhem os frutos insípidos dessa miopia. E enquanto eles se debatem na superficialidade, eu sigo aqui, na minha quietude, contemplando com tristeza profética o deserto que ajudei a prever, mas que me impediram de ajudar a evitar. Agora, eu faço da minha vida, poesias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva o seu comentário aqui.