A Perversidade da Mentalidade Colonial e a Ilusão do Luxo em Meio à Miséria
A persistência de uma mentalidade colonialista no Brasil revela-se na forma como certos setores da elite ainda enxergam a desigualdade não como um problema a ser superado, mas como uma ordem natural a ser mantida. Essa visão arcaica sustenta que a grandeza de uns depende da submissão de outros, como se o luxo de poucos, cercado pela fome de muitos, fosse um símbolo de glória e não a mais evidente demonstração de degradação moral. Essa dinâmica perversa perpetua a ideia de que o "bom escravo" é aquele que não questiona, que aceita passivamente sua condição, enquanto os que oprimem se deleitam em seu isolamento privilegiado, alheios ao caos social que alimentam.
O paradoxo é evidente, prega-se inovação e educação, mas despreza-se aqueles que são os pilares desse progresso. Professores, tratados com desdém e visto como impostores quando reivindicam dignidade, são exemplos claros dessa contradição. Da mesma forma, nas organizações, os talentos que verdadeiramente fazem a diferença são frequentemente marginalizados, pois sua capacidade de pensar criticamente e desafiar o status quo representa uma ameaça à estrutura de poder vigente. A elite atrasada, em sua miopia, não compreende que a exclusão e a opressão não garantem segurança ou prosperidade duradoura, apenas aprofundam o abismo que um dia poderá engoli-la.
O que essa elite não enxerga, por estar cega por seu próprio privilégio, é que uma sociedade justa beneficia a todos. Se houvesse um mínimo de equidade, se todos tivessem acesso a condições dignas de vida, o ambiente social seria menos hostil, mais harmonioso e, sobretudo, mais produtivo. A violência, fruto direto da desigualdade, não respeita muros altos ou grades elétricas. A verdadeira grandeza não reside na capacidade de oprimir, mas em construir um sistema em que o progresso de uns não dependa da exploração de outros.
Enquanto perdurar essa mentalidade colonial, que vê na humilhação alheia um motivo de orgulho, o Brasil continuará preso em um ciclo de atraso e violência. A mudança só virá quando aqueles que detêm poder entenderem que sua riqueza não é medida pela pobreza ao seu redor, mas pela capacidade de compartilhar oportunidades e construir um futuro em que a dignidade humana não seja um privilégio, mas um direito universal. Até lá, seguirão enjaulados em sua falsa grandeza, incapazes de perceber que a verdadeira miséria não está do lado de fora, mas dentro de suas próprias consciências.
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