Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Saudade

Eu resolvi te matar
Matar e deixar bem mortinha
Vinha devagarzinho te detendo
Fazendo isso quietinha

A saudade era intensa
Dolorida, imensa
Sou incapaz de mensurar
Pra matar, só pela morte lenta

Agora te matei
As lembranças são vãs
Só amanhã de enterrarei
Para além do divã

Vou primeiro te velar
Enquanto posso lastimar
Que saudade! Da saudade
que não tenho pra divagar.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Peso morto

Pasto sem gado
Tesouro sem ouro
Vida Severina
Nem tudo é rima.

Beleza sem nobreza
Destreza na tristeza
Palavra sem certeza
Completa pequeneza.

Criado nem sempre é mudo
Guarda-sol que guarda a chuva
Molha mas não inunda
Não tem lógica, barafunda.

Pobreza eterna
Olhos profundos
Observação deletéria
Sentimento imundo.

Ave que não voa
Cigarro apagado
Bebida sem álcool
Superficialidade no palco.

Grito rouco
Pele e osso
Noite esquecida
Regateando a vida.

Janela

Ei tu... que fica aí me observando
da janela à minha janela
Dá pra dizer o que está achando
do quê observas?
Fica o dia inteiro aí prostrado
me vendo, me lendo...
Colocou insulfilme nos vidros
como senha?
Não funciona,
tem baixa qualidade criptográfica
Estou te vendo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eu magia

Eu sou a que existo
Da maneira que bem quero
Vendo um mundo colorido
Bem sincero

Eu sou a que de olhos fechados
Vejo as cores do universo
Somente e somente se
Para rimar o verso

Eu sou a que imagina
Que o inimigo possa ser honroso
É o meu desejo de cair na cilada
Só para concluir o quanto ele é horroroso

Eu sou a que bem sei
Quando alguém  com o punhal se aproxima
É melhor nem tentar o golpe
Tenho saída exímia

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Tipo de gente

Tipo de gente! Já disse o meu tio
Gente bruta, gente frouxa
Gente que nem é gente
Gente que necessita de toda gente
Gente estúpida, escrota
Tem cada tipo de gente
Que nem merece ser gente.
Gente magra, gente gorda
Gente demente, que mente
Gente feia com feia gente
Tem cada tipo de gente!
Estranhamente gente
Não merece ser gente.
Gente falida, roída
Tem cada tipo de gente!
Gente ignóbil, carcomida
Ignorante, ressentida
Escondida
Tem cada tipo de gente!
Gente psicopata a matar gente
Gente falsa quase morta
pobre de mente
Gente asquerosa que ignora toda gente
Gente que ri e por dentro chora
deprimida com soberba
Entristecidamente
Tem cada tipo de gente!
Gente necessitada mas orgulhosa
Sanguessuga invejosa
Gente que da aparência vive
Totalmente deprimente
Gente rica, vadia, drogada
Gente artificial, desconexa
Deseducada que se acha gente.
Tem cada tipo de gente!...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Mais no menos

Como eu gostaria de pensar menos
Imaginar, sonhar e acreditar menos
Ser menos humana e mais racional
Principalmente no perdão, menos
Gostaria de ser como as pessoas me imaginam
Menos...
Mas estou aqui novamente
A pensar, imaginar, sonhar, acreditar e perdoar
Mais e mais...
Nunca vou aprender e ser menos
Continuarei a sofrer
Eternamente, mais.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Perdido

O que perdi, perdido está
não farei nenhum esforço para encontrar.
Quem achar que faça bom uso
mas aviso...
em perfeito estado não está.
Foram anos e anos de uso
se moldou a minha forma
harmonizou aos meus atributos
vai ser chato consertar.
Se for de alguma utilidade
por nunca ter possuído
o achado que foi perdido
empenha-se e verá.
Seja preciso, habilidoso
tente reformar.
Depois, alucine na dialética
do meu capitalismo tosco
a Mais-Valia do seu esforço.


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O nada

Se acha que lhe devo algum dinheiro,
envia a cobrança que eu pago.
Se me disser que lhe devo a sua vida
peço que coloque o seu preço.
Se me falar que a sua vida não tem preço e sim valor,
Sinto muitíssimo,
não haverá resgate.

Covarde demência

Tenho a sua imagem gravada
bem aqui em minhas retinas
imagens belas e horrendas
imagens em que você se encontra amordaçado
reprimido de exprimir sua opinião
consentindo que façam de você marionete e
entende como virtude, a demência frustrante de outrem sobre si
sem força moral, sem personalidade ou senso de justiça.
Agindo em bando, sabe que sua atitude não vai ser repreendida.
Não se defende, manipulado pela sua covardia.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mudez

Telefonas-me somente para ouvir a minha voz?
Um alô, um olá de uma voz rouca
Isso te satisfaz?
Ou estás a querer saber por onde ando
A me vigiar
Não te preocupes
Não irei a nenhum lugar.
Meu mundo é pequeno
Viajo muito na imaginação
Sou mais pensamento
Pouca ação.
Não deves me cobiçar
Pensamento é veneno
E pode te intoxicar.

Embaixo do Equador

No Brasil é assim
Três meses de bom tempo
Nove meses de inferno
Porém, colonizadores aqui chegaram
Inteligentes como eram
Ao invés de tirarem os agasalhos
Vestiram os Tupiniquins
Fomos ul-trajados a rigor
Brasileiro que se preze
Não camufla a sua beleza
Mantém a sua frescura e pureza
Embaixo, nesse hemisfério
é povo que anda nu.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Reflexo

Como posso deixar de te amar
Se tens olhos somente para mim?
Chego perto de ti e sorrio
Tu sorris.
Faço caras e bocas
Todos os tipos de trejeitos
Alegrias, tristezas
Mostro-te as minhas rugas
e incertezas
E tu, imitas-me.
Dou-te as costas
Vou-me embora
Tu, nem tá aí.
Como posso deixar de te amar?
Se volto mais velha e sorrio
Tu sorris.


Primeiro passo

A vida é feita de escolhas
Qual caminho seguir?
Dei o primeiro passo
no descompasso
Os anjos se encontravam
noutro espaço.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tristeza

Hoje estou triste
Não me envergonho em expor a minha tristeza
É certo que estou a invejar dos outros
Seus prazeres fingidos
A invejar toda gente sem essência
Demonstrando cinicamente suas alegrias.
Sempre aspirei esse modo de bem viver
Simular sorrisos e expressões agradáveis
Mostrar-me em fotos alegres de ações passadas
No mar, no campo, na capela ou em Marte...
Mas, para que lograr a personalidade
Enganando a realidade?
Quem sabe, seja essa a minha tristeza
Não saber viver de passados ritos de passagem.


domingo, 2 de novembro de 2014

Asas

Com as asas rasgo os ares
Pouso em fios, edifícios e observo mares
Se tenho asas é para alçar os ares
Ver de cima, tudo lindo.
Desço para ver de perto
vejo uma malha em confusão
de pequenez imaginação.
Rios poluídos que descem pela encosta
numa humilhação que desconforta
num chão revestido de alcatrão.
Nunca me disseram que lá embaixo
era pura podridão.
Por que me deram asas
se em troca só tenho decepção...
Ver o vexame posto
não é de bom gosto.
Asas, para quê?
Para assumir o meu destino
de enorme envergadura.
Vingar as desesperanças,
depois de desiludida e humilhada,
abraçar os que de olhos tristes me fitam
e se voltam acanhados, vencidos,
por acharem que em tudo aquilo
existia alguma graça.