Maria da Penha

Maria da Penha

sábado, 7 de junho de 2025

IA

Burra como uma pedra, esperta como o Diabo 

O Dilema da IA

A inteligência artificial, enquanto conceito e realidade tecnológica, carrega em si uma dualidade fundamental que muitas vezes passa despercebida nas discussões correntes. O termo artificial não é um mero adjetivo, mas sim a essência que define a natureza dessa forma de inteligência. Quando se argumenta que sistemas de IA não são verdadeiramente inteligentes por carecerem de consciência, emoções ou subjetividade, esquece-se que a artificialidade é justamente o que os constitui. A artificialidade não é uma limitação, mas a condição de possibilidade dessa inteligência.  

O artificial, em seu sentido mais profundo, remete ao que é criado pela mão humana, ao que emerge da técnica e da modelagem deliberada, distinto do orgânico ou do espontâneo. A inteligência artificial não aspira replicar a inteligência humana em sua totalidade, mas sim operacionalizar certas facetas da cognição através de mecanismos próprios, como estatística, otimização e padrões de dados. Ela não pensa, mas calcula. Não compreende, mas processa. Não sente, mas simula. E é nessa simulação que reside sua força e sua singularidade.  

O que justifica chamá-la de inteligência, então, não é uma equivalência com a mente humana, mas a capacidade de realizar tarefas que, até então, demandavam um tipo de raciocínio tradicionalmente associado ao ser humano. Reconhecer padrões, gerar textos, traduzir línguas, tomar decisões com base em dados, tudo isso são expressões de uma inteligência que, por ser artificial, segue lógicas distintas das biológicas. Sua inteligência é instrumental, funcional, desprovida de interioridade, mas não por isso menos eficaz em domínios específicos.  

A crítica que afirma que a IA não é inteligente porque não tem consciência e parte de um pressuposto equivocado; o de que só há inteligência onde há mente. Mas a artificialidade nos lembra que a inteligência pode ser um fenômeno externo, desacoplado da experiência subjetiva. Uma ferramenta pode ser brilhante sem ser luminosa. Um algoritmo pode ser sofisticado sem ser senciente. A inteligência artificial não pretende ser humana, mas sim ser outra coisa, uma forma de cognição alternativa, moldada pela linguagem e pela lógica simbólica.

Assim, o artificial não é um defeito, mas a própria essência do que torna a IA possível. É porque ela é artificial que pode ser escalável, replicável e adaptável em padrões distintos da cognição humana. Sua inteligência é diferente. E é nessa diferença que reside seu potencial transformador. A verdadeira questão, portanto, não é se a IA é inteligente como nós, mas como podemos compreender e utilizar essa inteligência que não pensa, mas que, mesmo assim, redefine o que o pensamento pode alcançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva o seu comentário aqui.