Maria da Penha

Maria da Penha

Contos da Vida Real

Conto da vida real - 1

Dalila deixou a sua vida segura para ir viver com Augusto. Partiu sem olhar para trás, fascinada em conhecer o que havia de interessante do outro lado do atlântico, culturas, novos lugares e estar com a sua paixão, o Augusto.
Não se passou muito tempo e Dalila estava encantada com tudo que vivia. Mas, em uma ocasião, sem que ela tivesse astúcia para perceber, lá também tinham as suas coisas esquisitas.
Depois de viver muitos anos por lá e desistir de tudo, Dalila começou a recordar de muitas dessas coisas, situações que a paixão não permitia que enxergasse. Foi então que Dalila me contou uma delas, dentre tantas outras que veio a contar mais tarde. Vou relatar a primeira, deixando as outras para adiante.
Era uma noite fria, ela não se lembra bem se já era inverno, poderia ser uma noite de outono. Augusto ainda não se tinha deixado conhecer plenamente por Dalila, aliás, nunca se deixou conhecer, mas sempre a tratava com muito carinho e desvelo. Os dois saíram naquela noite e foram à Nazaré, um sítio de praias bonitas e turísticas, lugar que Augusto conhecida muito bem, pois passou a sua infância, adolescência e continuou a frequentar freneticamente na vida adulta, conhecia cada ruela de casas antigas e bem conservadas, muitas ruelas  não se entrava com o carro.
Dalila já não muito jovem, estava entrando na idade dos seus 40 anos, mas ainda tinha lá um charme que encantava e, em sua cegueira por Augusto, lhe confiava a sua proteção diante do novo. Tanto Augusto quanto Dalila gostavam da boêmia e bebiam uns copos para se divertirem.
Naquela noite, depois de não beberem muito, estavam alegres e sorridentes, quando Augusto encontrou três pessoas, uma mulher e um senhor, ambos de meia idade, e um terceiro senhor mais jovem e de boa aparência, usava um sobretudo, talvez de cor preta ou cinza escuro, na luz da noite não se fazia possível perceber bem. Foi então que algo muito estranho aconteceu.
Dalila não compreendeu o que Augusto conversou com eles, estava mais para sussurros do que para uma conversa descontraída. Augusto pega na mão de Dalila e a puxa, quanto ela pergunta para onde iriam, ele responde, vamos até um lugar com essas pessoas, pessoas mesmo, que ela nunca soube os seus nomes.
Caminharam um pouco pelas ruas estranhas da Nazaré e o senhor mais velho abriu uma porta, vagamente Dalila se lembra que mais parecia estarem entrando em um porão. O ambiente era mesmo muito estranho com algumas mesas e bancos de madeira, e também algumas cadeiras, não havia muita coisa lá dentro, e com pouca iluminação, era como se estivessem num mausoléu de tamanho maior, tudo muito fúnebre.
Dalila se lembra que serviram uma bebida que continha álcool, não sabe que tipo de bebida, também não sabe o que adicionaram na bebida, porque ela se sentiu diferente depois de ingerir alguns goles, e parou imediatamente de beber. Augusto ficou conversando com o senhor e senhora mais idosos e deixou Dalila sem muito ambiente e a solta. Dalila não sabe dizer se Augusto estava a fazer tudo com algum propósito, com certeza Dalila sabe que Augusto, homem da vida e bem vivido, de inocência não tinha nada.
    Passado alguns minutos, o senhor de sobretudo e mais bem aparentado, começou um diálogo com Dalila, conversa estranha de gente esquisita, ao ponto de dar uma cantada na Dalila como se ela fosse uma mulher da vida. Ela percebeu que tudo aquilo era extremamente novo para ela, era o submundo que nunca havia conhecido e, sutilmente se achegou a Augusto e disse para irem embora que a conversa não era agradável. Mais estranho foi a atitude de Augusto, sem titubear e nem pegar na mão dela, saiu muito furioso e a andar depressa sem esperar por Dalila, que saiu correndo atrás de Augusto que já se retirava do recinto.
Caminhando apressadamente, Augusto na frente e Dalila atrás sem entender nada, foram até o carro e se dirigiram para casa e, nunca mais falaram sobre o ocorrido.
Dalila e Augusto voltaram muitas vezes na Nazaré e, Dalila se lembra em ter visto o tal senhor do sobretudo, mais de uma vez, ele fingia que não a conhecia e ela fazia o mesmo para com ele. Dalila nunca comentava nada com Augusto.
Passaram-se alguns meses e Augusto falou para Dalila que o tal senhor mais velho havia falecido. Dalila pensou... estranho Augusto se interessar sobre a vida e a morte de uma pessoa tão esquisita... Teria Augusto mais conhecimento daquelas pessoas que ela não percebia? Seria Augusto tão estranho quando eles? Queria Augusto em conluio com aquelas pessoas testá-la por não a conhecer bem e não ter certeza de quem ela realmente era? Queria Augusto que Dalila fosse uma mulher da vida para conseguir proveitos financeiros? Era Augusto um atravessador de prostitutas e se deu muito mal com Dalila?
Hoje Dalila sabe o quanto foi míope durante alguns anos. Sim, o homem que ela prezava tem como resposta, para todas as perguntas mais negativas que ela se fez e faz sobre ele,  positiva. Augusto é do submundo.


Conto da vida real - 2

Somos demônios

Há muito sei que somos duas folhas gêmeas do mesmo galho caídas de um outono cinzento, que o vento leva para qualquer lado, lados opostos, cada vez mais distantes. Lutei até meados de 2014 para que as folhas se juntassem novamente, contanto com a benevolência dos ventos, mas eles foram malévolos e nos distanciou. Estamos distantes por sermos maus, dois monstros que se juntaram para tirar proveitos, somos um íncubo e um súcubo.

Você íncubo pelo sexo e eu súcubo pelo pensamento, mas os mesmos demônios, iguais demônios, sem pena e nem dó. Procurou-me, entrou em minha vida, estudou-me com os argumentos que tinha e eu, em nada fui diferente, apenas entramos numa guerra de vileza entre titãs e que não poderia acabar diferente.

Ninguém poderá nos exorcizar, somos anjos e demônios, relação amor e ódio que nos une, amor pela inteligência de sabermos como odiar disfarçadamente.

Usamos as mesmas alegações, deixamos sutilmente perfumes de rosas em nossas mãos, quando essas a mim foram oferecidas e para você as ofertei, mas somente quanto estávamos na esfera do uso da nossas covardias, na posição unilateral do favoritismo.

Quem um dia poderá dizer que os demônios não amam? Todos têm amor dentro do seu círculo social, nas suas visões e racionalidades de vivenciar o mundo. Sim, demônios se adoram, e não temem em sufocar ninguém quando se odeiam.

Meu erro foi declarar o meu instinto fatal antes de você, deixando para você o livre-arbítrio para utilizar a sua sagacidade de se mascarar de deus perante os seus, estratagema para que eu fosse a traidora, a dissimulada em quem acreditou e a quem se dedicou, se tornando o coitado e pelo coito sentir-se amparado. 

Sabemos e sabemos bem, nos transmutar em humanos quando bem queremos para passarmos por doces e sentimentais senhores terrenos e convencer a quem bem pretendemos. Em nossas firulas julgamos quem um dia matou nosso amigo e, nós ao encontrá-lo na igreja rezando, o odiamos e desejamos que esse louco estivesse queimando no inferno. Não, não, deus não pensa assim, deus vai deixá-lo entrar em sua casa e será capaz de perdoá-lo, nós não, nós desejamos a ele que venha conosco, que seja torturado e que sofra eternamente. Somos ou não somos os diabos?

Inicialmente, nós os dois, não sabíamos que estávamos caindo na simulação de nós mesmos, nossas máscaras eram perfeitas, você humano, eu humana. Iludimo-nos e nos traímos. Traiu a mim com os seus arabescos que enfeitaram as sua palavras, a sua inocência, o seu desvincular da maldade para encantar o sentimento da bruxa que queria um dia ser uma mulher querida e amada, experimentar os sentimentos dos mortais. Esqueci-me por vários momentos que éramos apenas coisas, espíritos maus e, o que fazemos é somente roubarmos almas alheias e ainda, nos apoderando de vossos corpos.

Também não agi de forma diferente com você, também lhe dei o direito de se sentir no domínio do mundo terrestre, deixei que vislumbrasse e se deliciasse com os bons sentimentos, que, sentisse o prazer carnal na estética e na essência de certo conhecimento, inteligência, esforço, conquista, trabalho e espiritualidade, coisas boas que nós odiamos nos deuses, mas que eles nos fazem passar por essas provações para que possamos entender o quanto somos horrendos e o quanto detestamos as suas bondades, colocando-nos cada vez mais fortes em nossa ira, na nossa vingança de satanases.

Nos meus momentos em que me declarei humano como experimento e me deixei iludir pelo íncubo, não deixei de ser autêntica quase perfeita em minha transmutação. Abri a minha audição para me deixar trair, para acreditar no meu satanás, nas suas palavras precisas de que somente a mim fora capaz de soltar o verbo amar, "amo-te", e que nunca dissera a outra mulher e que jamais seria capaz de dizer se realmente não fosse amor. Acho que o demônio estava em transe, acho que ele acreditou que eu, o outro demônio, fosse capaz de acreditar em um jogo tão baixo e mesquinho.

Eu, essa "Mula", sabia bem com quem estava me relacionando, portanto, foi por isso que eu o amei e amo, pois os demônios se amam, mas eu fui transformada em um súcubo, mas ao menos por algum tempo, fui humana.

Diante de todas as hipóteses apresentadas anteriormente, eu me declaro mais pensamento, logo, em guerra de demônios, não sou capaz de sacrificar humanos inocentes, crédulos como faz o meu parceiro íncubo. Um dia, eu afirmei com convicção, que nunca pronunciei o verbo amar que não fosse para o meu único transmutado demônio humano, você. Não, não sou capaz de iludir humanos. Em guerra de titãs, somente titãs devem estar presentes. Não gosto de demônios que sacrificam inocentes para justificar o seu horror em perder uma batalha para outro diabo, acho isso desprezível, ira frágil e, demônios frágeis nunca poderão fazer justiça e vencer um deus.

Portanto, deixo aqui o meu recado ao meu querido companheiro das trevas, somos ladrões de almas, de almas frágeis, aquelas almas incrédulas que um dia desejam virar um de nós. Para que saiba a verdade sobre mim, hoje eu estou com a minha máscara humana, não estou me esgoelando pelos sete mares que amo alguém, estou em silêncio, não estou a usar ninguém, não estou cavando um poço tão profundo para depois cair dentro. Não sou assim tão volúvel para puxar pelas pernas pessoas que não merecem as profundezas do inferno, faço um jogo limpo, só jogo com os da minha estirpe, demônios como eu.

Temos de nos unir para termos a nossa sociedade perfeita, nossa sociedade de horror. Que saibamos roubar as almas incertas para prosperarmos. Não quero que seja fraco, não desejo que deus lhe vença, quero você ao meu lado, que não morra. Necessito de alguns anos para transcrever nossa história, meu livro, intitulado "Quinze Anos de Escuridão" e gostaria que estivesse ainda como ser terreno para que conhecesse melhor essa súcubo com quem se associou um dia.  


Sabe por que não escutamos vozes? Porque somos as vozes.

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