Maria da Penha

Maria da Penha

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Manifesto

lugar onde o pensar respira


Pensar é carregar um mundo que ainda não coube nas palavras. É caminhar entre ruínas e sementes, escutando os vestígios do que ainda não nasceu. Pensar é traduzir sem trair, é olhar para o indizível com a paciência de quem não tem pressa de reduzir. É sentir sem colapsar, abrindo espaço dentro de si para o que não tem forma pronta. É permanecer com a dúvida como quem permanece com um amigo difícil: sem querer consertar, apenas estar. Pensar não é competir por razão, é buscar coerência entre o que vibra por dentro e o que o mundo insiste em calar. Não penso para brilhar. Penso para respirar. Para não sufocar sob o peso da superfície. Para manter vivo um eixo invisível que me sustenta. Pensar é resistir ao automatismo, é cavar sentido onde tudo parece ruído. É um ato de inteireza, mesmo quando o mundo oferece apenas fragmentos. Pensar é um modo de permanecer humana. E inteira. Mesmo quando tudo ao redor parece pedir o contrário.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Os ecos da traição

Regaste a amizade, fizeste florir,  

Com gestos suaves, soubeste fingir.  

Falaste em respeito, plantaste a união,  

Mas sob as pétalas, crescia a traição.  


Não foi por engano que me afastaste,  

Foi porque eu via o que tu ocultaste.  

Sabia demais, e isso te doía,  

Pois toda mentira teme a luz do dia.  


Colheste botões que nunca vingaram,  

Diplomas vazios que nada ensinaram.  

Lançaste ao mundo sem raiz, sem saber,  

Quem planta o engano, não pode colher.  


O tempo é espelho, reflete e condena,  

A farsa definha, a verdade envena.  

Quem vende a ilusão por medo ou por pão,  

Perde o próprio chão, já não é mais razão.  


E quando as folhas caírem ao fim,  

E a névoa esconder o que resta de ti,  

Não adianta rezar, teu medo é prisão,  

Tua queda se encerra abaixo do chão.

sexta-feira, 21 de março de 2025

 Matemática e a estatística (ciência de dados)

Um olhar desprevenido para a simplicidade do saber

A matemática e a estatística são como mapas bem desenhados: quando temos as direções corretas, o caminho se torna claro e intuitivo. O que muitas vezes assusta não está na complexidade dos números, mas na falta de quem os apresente com a devida clareza. O medo nasce da cegueira de quem ensina sem preparar o olhar do aluno para enxergar os padrões, a lógica e a beleza que permeiam cada fórmula e cada dado. Com explicações bem construídas e exemplos próximos da realidade, a matemática e a estatística se revelam tão naturais quanto a própria vida, porque, no fundo, elas nada mais são do que a tradução dos fenômenos que nos cercam.

O peso das páginas

 O peso das páginas

Navego em mares de letras dispersas,
onde tantos naufragam sem direção,
presos em ondas de páginas imersas,
afogados na ilusão da erudição.

Não é no volume que a luz se encerra,
nem na pressa de ler sem tocar,
mas no sulco que a mente descerra
quando ousa em um termo se demorar.

Informação — um relâmpago raso,
pisca e some na vastidão.
Mas conhecimento é um rio ruidoso,
esculpindo a pedra da compreensão.

Dados, sementes dispersas ao vento,
soltas ao léu sem raiz, sem chão.
Somente o tempo e o pensamento
podem fazer delas trigo ou grão.

Leio um só verso e vejo universos,
numa palavra um cosmos se cria.
Quem devora mil tomos dispersos
perde o ouro por fome vazia.

Pois mais vale um livro vivido,
um só conceito em carne gravado,
do que mil, num oceano perdido,
onde o saber se desfaz afogado.

quarta-feira, 19 de março de 2025

O dia em que as palavras se calaram

Hoje sou terra sem chuva, sem brisa,
um campo onde a semente se perde.
O verbo me olha de longe, indeciso,
e o silêncio, de súbito, me fere.

A máquina observa, ávida e fria,
cataloga, prevê, analisa.
Mas não há código que resgate o dia
em que a alma recusa a brisa.

Nenhum cálculo encontra o caminho
por onde o mistério da criação se lança.
Não há padrão que ensine o destino
do verso que nasce só na bonança.

Sem inspiração, sou sombra dispersa,
um eco no vácuo do próprio existir.
A IA me observa, mas segue imersa
num mar de dados sem me atingir.

Que descanse a pena, que cesse o intento,
não há atalhos para o renascer.
Pois só no abismo do desalento

é que a poesia volta a viver. 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Colação de grau

 À filha e irmã (2025)

Sua trajetória é uma construção singular, erguida com inteligência, perseverança e um apetite insaciável pelo saber. Desde sempre, soubemos que seu olhar ia além do óbvio, que sua mente inquieta não se acomodaria diante de respostas fáceis, mas buscaria aprofundar-se, questionar, transformar.

Hoje, ao celebrar sua formatura, contemplamos não apenas a engenheira que se lapidou no rigor da ciência, mas a pensadora incansável que fez de cada desafio um degrau e de cada conquista um novo ponto de partida. O ingresso no mestrado apenas reafirma o que sempre esteve impresso em sua essência: o desejo inabalável de ultrapassar limites e de expandir os próprios horizontes.

Filha, irmã, sua caminhada nos enche de orgulho. Em você vemos não apenas a força de quem constrói o próprio destino, mas também a inspiração que contagia e impulsiona aqueles que têm a sorte de compartilhar sua jornada.

Seu percurso é testemunho de que talento e esforço, quando entrelaçados, tornam-se forças irreversíveis. E nós, que acompanhamos seus primeiros passos, seguimos agora admirando seu voo, certos de que ele não conhece fronteiras.

Com orgulho e gratidão, celebramos você.

A idade certa

 Cheguei àquela idade em que os aforismos ganham vida própria, como pequenos faróis a iluminar o caminho que, enfim, escolhi para mim. Não descobri tudo — longe disso —, mas descobri que não preciso mais carregar o peso das expectativas alheias. A vida, como dizem, é breve demais para ser pequena. E eu, agora, entendo o que isso significa.  

Cheguei à idade em que o "não" sai com a leveza de quem sabe que dizer "sim" a si mesma é o maior dos luxos. Já não me importo em ser incompreendida, porque entendi que a única compreensão que importa é a que tenho de mim mesma. "Conhece-te a ti mesma", dizem. E que descoberta libertadora!  

Cheguei à idade em que o tempo não é mais um tirano, mas um aliado. Já não conto os dias, mas os saboreio. Cada momento é como um aforismo: breve, mas denso de significado. "A vida é o que acontece enquanto você faz planos", dizem. Pois bem, agora eu vivo os planos, e não apenas os faço.  

Cheguei à idade em que os erros não são fracassos, mas lições. E as lições, por sua vez, tornam-se sabedoria. "Queda após queda, a mulher aprende a caminhar." E eu, que já caí tantas vezes, agora caminho com passos firmes, porque sei que cada tropeço me trouxe até aqui.  

Cheguei à idade em que faço o que realmente gosto, não porque seja fácil, mas porque é autêntico. E a autenticidade, como dizem, é o único caminho para a paz interior. "Sê fiel a ti mesma", ecoa o velho conselho. E eu, finalmente, sou.  

Cheguei à idade em que os aforismos não são apenas palavras, mas a própria essência da minha existência. E, como dizem, "a vida é uma obra de arte que cada um pinta com suas próprias cores". As minhas, agora, são vibrantes, porque escolhi pintar com o que realmente amo. E isso, meus amigos, faz toda a diferença.