Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 21 de março de 2025

O peso das páginas

 O peso das páginas

Navego em mares de letras dispersas,
onde tantos naufragam sem direção,
presos em ondas de páginas imersas,
afogados na ilusão da erudição.

Não é no volume que a luz se encerra,
nem na pressa de ler sem tocar,
mas no sulco que a mente descerra
quando ousa em um termo se demorar.

Informação — um relâmpago raso,
pisca e some na vastidão.
Mas conhecimento é um rio ruidoso,
esculpindo a pedra da compreensão.

Dados, sementes dispersas ao vento,
soltas ao léu sem raiz, sem chão.
Somente o tempo e o pensamento
podem fazer delas trigo ou grão.

Leio um só verso e vejo universos,
numa palavra um cosmos se cria.
Quem devora mil tomos dispersos
perde o ouro por fome vazia.

Pois mais vale um livro vivido,
um só conceito em carne gravado,
do que mil, num oceano perdido,
onde o saber se desfaz afogado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva o seu comentário aqui.