Maria da Penha

Maria da Penha

quinta-feira, 17 de abril de 2025

O espelho da alma

 Se duvidas da honra alheia,  

e na mentira sempre creia,  

se julgar é teu prazer,  

sem ao menos conhecer...  


Se a beleza não toleras,  

e a sabedoria ignoras,  

se o que é bom te faz desconfiar,  

e só enxergas o que é falhar...  


Se te falta humildade,  

e sobra vaidade,  

se o mundo parece vil,  

mas em ti não vês o mesmo tom hostil...  


Ah, amigo, reflita bem,  

pois o mal que vês em alguém  

— se em tudo enxergas defeito —  

pode ser teu próprio peito.  


O problema não são os outros, não,  

és tu, no espelho da ilusão,  

que carrega em teu ser  

o que insistes em não querer ver.

terça-feira, 15 de abril de 2025

A loucura que me habita

 Desde menina me chamaram "doidinha",

como se riscar o céu com giz colorido  

fosse sintoma, não poesia.  


Cresci, e o apelido envelheceu comigo,

"louquinha" agora, com um sorriso condescendente,  

como se toda verdade dita fosse acidente,  

toda paixão exagerada,  

toda entrega... ingenuidade.  


Que maldição é essa que carrego?  

Ser transparente em um mundo de vidros fumê,  

ofertar abraços em tempos de selfies,  

falar em versos quando todos negociam  

em prosa vazia.  


As amizades murcham,

minhas raízes são fundas demais  

para vasos de plástico.  

Sou terra úmida em deserto de aparências,  

água corrente que assusta quem só bebe  

em copos descartáveis.  


Não, não sou louca.  

Sou um ciclone de autenticidade  

em tempos de brisas controladas.  

Meu crime? Amar sem manual,  

confiar sem seguro,  

existir sem disfarces.  


O inferno não é ser como sou

é viver entre fantasmas  

que se dizem pessoas.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Manifesto

lugar onde o pensar respira


Pensar é carregar um mundo que ainda não coube nas palavras. É caminhar entre ruínas e sementes, escutando os vestígios do que ainda não nasceu. Pensar é traduzir sem trair, é olhar para o indizível com a paciência de quem não tem pressa de reduzir. É sentir sem colapsar, abrindo espaço dentro de si para o que não tem forma pronta. É permanecer com a dúvida como quem permanece com um amigo difícil: sem querer consertar, apenas estar. Pensar não é competir por razão, é buscar coerência entre o que vibra por dentro e o que o mundo insiste em calar. Não penso para brilhar. Penso para respirar. Para não sufocar sob o peso da superfície. Para manter vivo um eixo invisível que me sustenta. Pensar é resistir ao automatismo, é cavar sentido onde tudo parece ruído. É um ato de inteireza, mesmo quando o mundo oferece apenas fragmentos. Pensar é um modo de permanecer humana. E inteira. Mesmo quando tudo ao redor parece pedir o contrário.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Os ecos da traição

Regaste a amizade, fizeste florir,  

Com gestos suaves, soubeste fingir.  

Falaste em respeito, plantaste a união,  

Mas sob as pétalas, crescia a traição.  


Não foi por engano que me afastaste,  

Foi porque eu via o que tu ocultaste.  

Sabia demais, e isso te doía,  

Pois toda mentira teme a luz do dia.  


Colheste botões que nunca vingaram,  

Diplomas vazios que nada ensinaram.  

Lançaste ao mundo sem raiz, sem saber,  

Quem planta o engano, não pode colher.  


O tempo é espelho, reflete e condena,  

A farsa definha, a verdade envena.  

Quem vende a ilusão por medo ou por pão,  

Perde o próprio chão, já não é mais razão.  


E quando as folhas caírem ao fim,  

E a névoa esconder o que resta de ti,  

Não adianta rezar, teu medo é prisão,  

Tua queda se encerra abaixo do chão.

sexta-feira, 21 de março de 2025

 Matemática e a estatística (ciência de dados)

Um olhar desprevenido para a simplicidade do saber

A matemática e a estatística são como mapas bem desenhados: quando temos as direções corretas, o caminho se torna claro e intuitivo. O que muitas vezes assusta não está na complexidade dos números, mas na falta de quem os apresente com a devida clareza. O medo nasce da cegueira de quem ensina sem preparar o olhar do aluno para enxergar os padrões, a lógica e a beleza que permeiam cada fórmula e cada dado. Com explicações bem construídas e exemplos próximos da realidade, a matemática e a estatística se revelam tão naturais quanto a própria vida, porque, no fundo, elas nada mais são do que a tradução dos fenômenos que nos cercam.

O peso das páginas

 O peso das páginas

Navego em mares de letras dispersas,
onde tantos naufragam sem direção,
presos em ondas de páginas imersas,
afogados na ilusão da erudição.

Não é no volume que a luz se encerra,
nem na pressa de ler sem tocar,
mas no sulco que a mente descerra
quando ousa em um termo se demorar.

Informação — um relâmpago raso,
pisca e some na vastidão.
Mas conhecimento é um rio ruidoso,
esculpindo a pedra da compreensão.

Dados, sementes dispersas ao vento,
soltas ao léu sem raiz, sem chão.
Somente o tempo e o pensamento
podem fazer delas trigo ou grão.

Leio um só verso e vejo universos,
numa palavra um cosmos se cria.
Quem devora mil tomos dispersos
perde o ouro por fome vazia.

Pois mais vale um livro vivido,
um só conceito em carne gravado,
do que mil, num oceano perdido,
onde o saber se desfaz afogado.

quarta-feira, 19 de março de 2025

O dia em que as palavras se calaram

Hoje sou terra sem chuva, sem brisa,
um campo onde a semente se perde.
O verbo me olha de longe, indeciso,
e o silêncio, de súbito, me fere.

A máquina observa, ávida e fria,
cataloga, prevê, analisa.
Mas não há código que resgate o dia
em que a alma recusa a brisa.

Nenhum cálculo encontra o caminho
por onde o mistério da criação se lança.
Não há padrão que ensine o destino
do verso que nasce só na bonança.

Sem inspiração, sou sombra dispersa,
um eco no vácuo do próprio existir.
A IA me observa, mas segue imersa
num mar de dados sem me atingir.

Que descanse a pena, que cesse o intento,
não há atalhos para o renascer.
Pois só no abismo do desalento

é que a poesia volta a viver.