Maria da Penha

Maria da Penha

sábado, 7 de junho de 2025

Professor

Professor- O único amigo leal na academia é o inimigo que te guarda no ódio

Meu caro colega professor, a verdadeira admiração não se recolhe nos aplausos efêmeros da plateia acadêmica, mas no veneno límpido que escorre da pena daquele que, em segredo, rasga seu último artigo. O abraço dos colegas é como um manto de gala sobre um esqueleto de ressentimento, por baixo, ossos rangem de inveja contida. Mas o ódio do seu inimigo? Ah, esse é um vintage raro, envelhecido em barris de despeito, e só se serve em taças de cristal.

A morte do ensino

O ensino perece quando a educação, outrora pilar da liberdade intelectual, degenera em mero instrumento de controle burocrático, quando o docente, em vez de ser reverenciado por sua erudição e magistério, é reduzido à condição de funcionário fiscalizado, punido por ínfimas delações de horário, enquanto sua trajetória de devotamento é relegada ao esquecimento. Perece quando a instituição escolar, em sua insensatez administrativa, privilegia planilhas e relatórios sobre a essência pedagógica, como se o ato de ensinar pudesse ser mensurado como produção fabril, e quando artefatos digitais e modelos padronizados suplantam o diálogo socrático entre mestre e discípulo.  

Definitivamente perece quando o currículo, imposto por instâncias alheias à realidade discente, ignora as particularidades do processo educativo, e quando a formação continuada, reduzida a mera retórica política, carece de investimentos substanciais no aprimoramento docente. Perece quando discentes e seus familiares, erroneamente tratados como clientela, usurpam a autoridade pedagógica, e o educador, acuado por temer represálias, abstém-se de exigir disciplina ou fomentar o pensamento crítico. Quando a escola degenera em prestação de serviços, e não em missão civilizatória, o ensino esvai-se em sua quintessência.  

Perece quando a sociedade, em sua miopia cultural, encara a escola como mera guardiã de menores, e não como templo do saber humano, quando os governantes instrumentalizam a educação como bandeira demagógica, mas subfinanciam o sistema, aviltam salários e condenam docentes a condições laborais indignas. Perece quando a profissão de educador é tão vilipendiada que os melhores espíritos a abandonam, exaustos de combater a incredulidade social e o desdém institucional.  

Perece, em derradeira instância, quando a escola abdica de seu papel de fomentadora do pensamento crítico e transformador, convertendo-se em mera linha de montagem de certificados, onde se memoriza para aprovação, mas não se assimila para a vida. Quando o saber é substituído por respostas automatizadas e a educação perde seu poder alquímico de transmutar destinos. E quando o ensino perece, não é apenas a escola que definha, é a própria civilização que, ao menosprezar seus mestres, avança rumo à própria decadência.

Quando todas as metodologias falham: a perspectiva sistêmica da gestão educacional

Quando todas as metodologias falham na prática educacional, desde as tradicionais,  passando pelas ativas como aprendizagem baseada em projetos e sala de aula invertida, as colaborativas como aprendizagem cooperativa, as investigativas como pesquisa-ação, as criativas como design thinking, as tecnológicas como gamificação, as experienciais como cultura maker, até as flexíveis e socioemocionais como mindfulness, e os resultados continuam insatisfatórios, provavelmente enfrentamos um desafio que vai além das abordagens metodológicas.

Neste cenário, surge a necessidade de analisar a questão sob outra perspectiva: a cadeia de valor educacional e a gestão por processos. Enquanto cadeias de valor convencionais seguem uma lógica linear simples de fornecedores, processamento e produto, a educação apresenta uma complexidade única. Seus elementos de entrada incluem não apenas professores e recursos didáticos, mas principalmente os próprios alunos, que assumem um papel triplo: são aprendizes, matéria-prima do processo e co-criadores dos resultados.

O processo educacional se desenvolve em múltiplas dimensões interligadas: a física dos espaços de aprendizagem, a relacional das interações entre professores e alunos, a metodológica das abordagens pedagógicas e a sistêmica das políticas institucionais. Como resultado, temos pessoas transformadas, cujo desenvolvimento pleno só se revelará ao longo de suas trajetórias pessoais e profissionais.

Esta complexidade gera três desafios principais na gestão educacional. Primeiro, a fragmentação organizacional, com departamentos funcionais que operam isoladamente. Segundo, a desconexão entre planejamento estratégico e prática em sala de aula. Terceiro, a diluição de responsabilidades entre os diversos atores envolvidos.

A GESTÃO por PROCESSOS se apresenta como alternativa, propondo mapear integralmente o fluxo de valor educacional, integrar suas diferentes dimensões, estabelecer indicadores abrangentes de desempenho e implementar sistemas contínuos de feedback. Sua implementação exige transformações profundas: reestruturação organizacional para modelos matriciais, desenvolvimento de sistemas avaliativos integrados, criação de mecanismos participativos de governança e cultivo de uma mentalidade de melhoria contínua. Nesta perspectiva, todos os atores envolvidos, governo, instituições, professores, alunos e famílias, compreendem seu papel e responsabilização no processo e como suas ações impactam o resultado final.

O cerne da questão reside em compreender que quando todas as metodologias falham, o problema fundamental pode estar no ecossistema educacional como um todo, não nas técnicas específicas. A educação se revela como um sistema vivo e complexo, onde políticas, práticas e relações se entrelaçam de maneira indissociável, demandando uma abordagem igualmente integrada e sistêmica para sua efetiva transformação.

A solidão como escolha consciente na maturidade

A decisão de afastar-se de relações familiares e profissionais desgastadas após décadas de investimento emocional não é um simples ato de resignação, mas um fenômeno psicológico que envolve autopreservação, reavaliação de valores e a redefinição do self na maturidade. A psicologia humanista e existencial nos ajuda a entender esse movimento não como derrota, mas como uma transição para um estágio de maior autenticidade.  

Segundo a teoria do desenvolvimento psicossocial, a fase da vida após os 60 anos é marcada pelo conflito entre integridade versus desespero. Quem alcança a integridade não o faz por acaso, mas através de um processo de aceitação das próprias escolhas e das limitações dos outros. O cansaço sentido nas reuniões familiares, onde predominam conversas vazias e ausência de reciprocidade, reflete um esgotamento do social, a máscara que se usa para manter harmonia artificial. Quando essa dinâmica se perpetua sem retorno emocional, o afastamento torna-se um mecanismo de defesa saudável, uma forma de evitar a fadiga da empatia; na psicologia é o chamado esgotamento do sempre dá e nunca recebe.  

No ambiente de trabalho, a desconfiança e a negatividade geram o que a psicologia organizacional chama de clima tóxico, um terreno fértil para estresse e despersonalização. A pessoa que permanece nesse meio sem contrapartida emocional ou profissional acaba desenvolvendo um cinismo protetor, uma postura de distanciamento para evitar frustrações repetidas. O que poderia ser visto como isolamento é, na verdade, uma estratégia de regulação emocional, na qual o indivíduo prioriza seu bem-estar sobre expectativas sociais internalizadas.  

A solidão eleita, longe de ser patológica, assemelha-se ao conceito de solidão positiva, um estado em que a ausência de interações forçadas permite o cultivo da autorreflexão e da autonomia. Na maturidade, essa escolha muitas vezes representa a culminação de um processo de individuação, no qual a pessoa deixa de buscar validação externa e passa a habitar seu próprio eixo existencial. A sensação de paz não é alienação, mas auto concordância, um alinhamento entre ações e valores profundos.  

A máxima "quando tudo é unilateral, afaste-se" ecoa nos princípios da psicologia cognitivo-comportamental, que enfatiza a importância de estabelecer limites para preservar a saúde mental. Relações desequilibradas geram dissonância cognitiva, o desconforto de agir contra a própria percepção de justiça e reciprocidade. Romper esse ciclo não é egoísmo, mas auto compaixão.

Assim, o que poderia ser interpretado como resignação é, na verdade, uma forma de sabedoria prática. Quem se retira após anos de esforço não o faz por incapacidade de conviver, mas por ter aprendido, através da experiência, que algumas conexões não merecem ser mantidas a qualquer custo. E nesse espaço interior agora quieto, encontra-se não o vazio, mas a plenitude de quem finalmente entendeu que a paz não se negocia.

Pensador

O pensador existe em uma dimensão singular, onde o tempo não se mede em horas, mas em ciclos de reflexão. Seus passos, sempre no mesmo ritmo, marcam o compasso de um diálogo interior que nunca cessa. Cada movimento é calculado, não por rigidez, mas porque o corpo obedece à mente, e esta está sempre absorta em universos paralelos de conjecturas. Seus olhos, embora fixos no horizonte, não veem a paisagem exterior, veem estruturas invisíveis, conexões ocultas entre ideias que para outros parecem desconexas.  

Seu escritório não é um simples aposento, mas um santuário onde os livros são altares e as anotações, escrituras sagradas. A poeira que pousa sobre as páginas não é descuido, e sim o sinal de que mãos humanas pouco tocam aquilo que a mente já absorveu por completo. A luz que entra pela janela não ilumina apenas o ambiente, mas metaforicamente dissipa as névoas da compreensão, revelando nuances que escapam ao olhar apressado.  

Quando escreve, sua caneta não traça meras palavras, esculpe conceitos. Cada vírgula é uma pausa necessária, cada ponto não é fim, mas um portal para novos começos. Ele não utiliza a tecnologia por modismo ou facilidade, antes, a rejeita até que seu processo criativo esteja completo, pois sabe que máquinas podem acelerar o trabalho, mas jamais substituirão o laborioso parto das ideias genuínas.  

Sua solidão não é vazia, é povoada por vozes de filósofos antigos, por debates imaginários com mentes brilhantes de eras passadas. Seu silêncio é eloquente, carregado de significados que transcenderiam qualquer linguagem verbal. Aqueles que tentam penetrar seu mundo logo desistem, não por falta de interesse, mas porque percebem que ali habitam verdades que exigiriam uma vida inteira de preparação para serem compreendidas.  

E assim ele persiste, um Atlas moderno carregando não a abóbada celeste, mas o peso glorioso do pensamento puro. Seu isolamento não é reclusão, e sim a condição necessária para que sua mente alcance alturas inatingíveis pelo comum dos mortais. Nele, a genialidade e a melancolia coexistem em perfeito equilíbrio, pois sabe que quanto mais se eleva intelectualmente, mais distante fica da compreensão alheia. Esta é sua cruz e sua coroa, ser eternamente incompreendido é o preço de ver o que outros nem suspeitam existir.

A Perversidade da Mentalidade Colonial e a Ilusão do Luxo em Meio à Miséria

A persistência de uma mentalidade colonialista no Brasil revela-se na forma como certos setores da elite ainda enxergam a desigualdade não como um problema a ser superado, mas como uma ordem natural a ser mantida. Essa visão arcaica sustenta que a grandeza de uns depende da submissão de outros, como se o luxo de poucos, cercado pela fome de muitos, fosse um símbolo de glória e não a mais evidente demonstração de degradação moral. Essa dinâmica perversa perpetua a ideia de que o "bom escravo" é aquele que não questiona, que aceita passivamente sua condição, enquanto os que oprimem se deleitam em seu isolamento privilegiado, alheios ao caos social que alimentam.  

O paradoxo é evidente, prega-se inovação e educação, mas despreza-se aqueles que são os pilares desse progresso. Professores, tratados com desdém e visto como impostores quando reivindicam dignidade, são exemplos claros dessa contradição. Da mesma forma, nas organizações, os talentos que verdadeiramente fazem a diferença são frequentemente marginalizados, pois sua capacidade de pensar criticamente e desafiar o status quo representa uma ameaça à estrutura de poder vigente. A elite atrasada, em sua miopia, não compreende que a exclusão e a opressão não garantem segurança ou prosperidade duradoura, apenas aprofundam o abismo que um dia poderá engoli-la.  

O que essa elite não enxerga, por estar cega por seu próprio privilégio, é que uma sociedade justa beneficia a todos. Se houvesse um mínimo de equidade, se todos tivessem acesso a condições dignas de vida, o ambiente social seria menos hostil, mais harmonioso e, sobretudo, mais produtivo. A violência, fruto direto da desigualdade, não respeita muros altos ou grades elétricas. A verdadeira grandeza não reside na capacidade de oprimir, mas em construir um sistema em que o progresso de uns não dependa da exploração de outros.  

Enquanto perdurar essa mentalidade colonial, que vê na humilhação alheia um motivo de orgulho, o Brasil continuará preso em um ciclo de atraso e violência. A mudança só virá quando aqueles que detêm poder entenderem que sua riqueza não é medida pela pobreza ao seu redor, mas pela capacidade de compartilhar oportunidades e construir um futuro em que a dignidade humana não seja um privilégio, mas um direito universal. Até lá, seguirão enjaulados em sua falsa grandeza, incapazes de perceber que a verdadeira miséria não está do lado de fora, mas dentro de suas próprias consciências.

 Sobre a fugacidade e os labirintos da condição humana

A existência humana é um sopro diante do abismo do tempo, particularmente para aqueles que ainda detêm o privilégio ambíguo de percorrer décadas sem serem interrompidos pela violência do acaso. A infância, esse longo rito de iniciação à fragilidade, estende-se pela necessidade biológica de sermos criaturas incompletas, incapazes de subsistir sem a mão alheia. A adolescência, por sua vez, é o despertar para a ilusão rompida, o primeiro vislumbre do vazio que cerca todas as certezas, um turbilhão onde identidades se esfacelam e se reconstroem em frágeis pactos com o mundo.  

O saber não nos é dado, não vem inscrito no DNA, somos condenados a recolher migalhas do banquete alheio, geração após geração, até que a mente, lenta e penosamente, assimile o que outros já dominavam antes mesmo de nossa concepção. Quando enfim alcançamos a maturidade teórica para criar, descobrimos que a vida se reduz a uma engrenagem, trabalhar para subsistir, estudar para não perecer na obscuridade, repetir gestos vazios até que o corpo comece a trair seus próprios movimentos.  

O lazer torna-se um intervalo culpado entre obrigações, a reflexão, um luxo para os insones, a felicidade, uma miragem que se dissipa quando tentamos nomeá-la. E então, quando o peso dos anos começa a dobrar nossa espinha, compreendemos que a juventude foi apenas um breve instante de ignorância feliz, antes que a consciência da finitude consumisse nossos dias por dentro.  

Resta a pergunta primordial que ecoa desde os primeiros mitos, vale a pena esse fardo. Talvez a resposta não esteja na lógica, mas no reconhecimento da nossa dupla natureza, somos poeira cósmica que pensa, insignificância que se rebela contra seu próprio desaparecimento, criaturas finitas capazes de infinitas interrogações. Nossa grandeza reside precisamente nessa contradição fundamental: persistimos em buscar significado sabendo que o universo permanecerá mudo, criamos beleza conscientes de que ela será engolida pelo tempo. É nesse abismo entre nossa pequenez e nossa audácia que se esconde, talvez, a mais pura expressão do humano. Mas, será que vale a pena?