Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Eu, esteio

Tens uma beleza radiante
um comportamento subliminal
um andar cativante
uma elegância descomunal

Será tudo isso subliminar?
Não te encontras onde dizes estar?
És um rótulo ambulante
uma aparência a tragar?

É dolorida a desconfiança
Quando voltas ao teu lugar
não tocas em meu corpo
ficando sempre no limiar

Ardente e fútil beleza
A gozar do teu eu profundo
É amor perdido, imundo
Desprezível o teu gostar. 

Espaço restrito

O meu trabalho de ontem
é recomeço do hoje no cansaço
O meu sonho do passado
é  o meu trauma presente
O meu pressentimento do erro
é o acontecimento exato
Os meus juramentos secretos
é a insônia da noite
O meu grito de guerra
é o fantasma da liberdade
A minha condição secundária
é a solicitude
O meu primeiro passo
é na areia monazítica
Os meus princípios
é no espaço de um metro quadrado.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Transtornado

Enquanto eu penso
Outros detonam
inutilizam

Enquanto eu faço
Outros desfazem
abominam

Enquanto eu vivo
Outros sofrem
aniquilam

Enquanto eu feliz
Outros detestam
retrocedem

Enquanto eu poesia
Outros marasmo
desatinam

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Canto da insônia

A noite começa a ficar longa
A briga é entre mim e a cama
A máxima está no não pensar
Não, não tem jeito
Tudo emaranha nas lembranças
Vejo Bandeira na tela escura da TV
Leio Florbela tão viva que fica na cabeceira
Escuto Pessoa  nas lástimas de Belchior
Numa nuance, na neblina da madrugada
Forma-se a imagem do meu menino
Tão real, tão lindo
Inatingível, se desfaz e morre
Minha face apresenta desgaste
E o dia nasce perfeito.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Feliz aniversário silencioso

Eu sei da sua saudade
Não se torture por senti-la
A saudade é mágica
Ela é extravasada
No grito
No sonho
Na revolta
No suspiro
No telefonema silencioso
E naquele não atendido
Enquanto sentir saudade
Terá certeza que tudo foi verdade
E só se sente saudade
Do que foi felicidade
Agradecida eu fico
Por se lembrar do meu aniversário
Na primeira hora de 23 de maio.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Gaita

A gaita ele tocava
para agradar a sua amada
Ela suspirava...
No meio da música ele sempre parava
De súbito tinha náuseas
Na pia tossia, cuspia
lavava a cara
A amada nada indagava
não entendia
o tamanho esforço
que a gaita lhe exigia
Ele mostrava talento
mas tinha dificuldade
com o tal instrumento
Ora gaita, ela exclamou
numa noite fria
Com tantos instrumentos no mundo
Por que ele não escolheu
o que mais lhe apetecia.