Maria da Penha

Maria da Penha

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Sobra da falta

Chucro é o passo, tropeço no pó,
morto de sonhos, pobre de intento;
roto na roupa, no peito o nó,
sobra só falta, vento e lamento.

Poder se exibe, veste de brilho,
mas fome espreita na sombra escura;
liberdade escapa, leve, andarilho,
nas mãos dos rotos, sombra e fissura.

E o que sobra da falta, em peito cansado,
é o pouco que arde, lume apagado,
povo sem rumo, olhar sem guarida,
falta que sobra, eco sem vida.



quarta-feira, 23 de outubro de 2024

O Silêncio que Esconde


Há perigo no silêncio,
na fala que nunca cresce,
no olhar que se acomoda,
no sim que nunca desce.

A mansidão disfarça o vago,
um abismo oculto e frio,
onde a voz não faz eco
e o coração é vazio.

Aceitar o tudo sem luta,
sem sequer respirar o não,
é como caminhar nas sombras
sem saber a direção.

Quem nunca levanta a voz
nem questiona o caminho,
talvez se perca na ausência
ou se esvazie sozinho.

Medo me dá essa calma,
essa paz sem fundação,
pois no fundo do silêncio
mora a sombra da omissão.


Desencanto Lúcido com as Máscaras da Vida

Sou da lógica, dos números frios,

Onde o caos se ordena em linhas retas.

Racional, calculo cada passo,

Enquanto o mundo se perde em máscaras de festa.


Não me entrego à fé que não vê,

Agnóstica, questiono o que não se pode provar.

Vejo as mãos erguidas ao vazio,

Gritando por sentido onde só há escuridão.


Antissocial, observo de longe,

A plateia de sorrisos ensaiados.

São vidas fingidas, papéis bem decorados,

Em um teatro de mentiras que já não me enganam.


Revolta-me a farsa que aceitam sem pensar,

O conforto da ilusão, o medo de duvidar.

Eu não me calo, nem me entrego à mentira,

Minha verdade é fria, mas ao menos é minha.

domingo, 20 de outubro de 2024

Professor

Um bom professor, em sua essência mais elevada, é aquele que possui a habilidade rara de navegar por temas complexos e, com elegância intelectual, consegue torná-los acessíveis e compreensíveis. Simplificar o complexo não é um ato de superficialidade, mas sim um processo de decodificação profundo. Isso exige, antes de tudo, uma compreensão detalhada das nuances do conhecimento, pois apenas quem domina verdadeiramente o conteúdo consegue explicá-lo de maneira clara e inteligível ao aprendiz.

Esse professor não banaliza o saber, nem o priva de sua riqueza, mas o apresenta de forma clara, sem perder suas múltiplas camadas de significado. Tal habilidade requer não só conhecimento teórico, mas também sensibilidade pedagógica, para identificar as barreiras que dificultam o aprendizado e, a partir disso, construir pontes que levem o aluno ao entendimento profundo.

Ensinar, quando feito com eficácia, não se trata apenas de transmitir informações, mas de criar condições para que o outro possa compreender o que, à primeira vista, parecia indecifrável. Assim, o professor é, em última análise, um mediador entre o complexo e o compreensível, um tradutor que transforma realidades epistemológicas em linguagem acessível ao cotidiano do aluno.

Nessa jornada, o bom professor ilumina os caminhos da aprendizagem, não oferecendo respostas prontas, mas incentivando o aluno a fazer suas próprias perguntas e a construir o conhecimento de maneira autônoma. É nessa interação entre a complexidade do conteúdo e a clareza da explicação que reside a verdadeira maestria docente.

Minha ética

 Minha ética se baseia em convicções fortes, indo além de simplesmente seguir regras ou buscar aprovação. Eu ajo não por pressão, mas porque acredito nos princípios que guiam minhas ações. Max Weber distingue entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade, e eu me identifico com a primeira: sigo meus valores, sem abrir mão do que considero certo, independente das consequências.

Sei que essa profundidade ética não é captada em interações superficiais. Muitas pessoas formam suas impressões a partir de conversas rápidas ou momentos breves, que não revelam minha verdadeira essência. Para entender quem sou de fato, é preciso um diálogo mais profundo, onde minhas convicções e princípios possam aparecer. Não dá para me conhecer bem apenas com interações rápidas.

Minha postura ética, como a de Kant, está ligada ao dever moral e à autonomia. Para ele, as ações têm valor moral quando feitas por dever, e não por interesse. Do mesmo modo, minhas ações são guiadas por algo maior, que muitas vezes não é visível para quem me conhece apenas de forma superficial.

Entendo que, para alguém me conhecer de verdade, é necessário mais do que convivência. É preciso um diálogo verdadeiro, onde posso mostrar minhas crenças e valores. Só assim minha essência pode ser realmente compreendida.

Sob o Sol da Resistência

Sob o Sol da Resistência


Escrevo em brasa, a tinta é revolta,

Cada palavra subverte, se solta.

Leio o mundo nas entrelinhas do poder,

E faço arte onde querem me deter.


Estudo o sistema que tenta oprimir,

Ressignifico o saber, me recuso a cair.

Vejo o sol nascer, impassível, altiva,

Contra o silêncio imposto, permaneço viva.