Maria da Penha

Maria da Penha

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Estado da arte da liberdade

É no isolamento que encontro-me em liberdade
Sem obrigatoriedade
Sem necessidade de amor
De dinheiro
Isenta de curiosidade.

O meu estágio de eremita é  o mais aprazível
Liberta-me das penúrias das associações
Desobriga-me do servilismo
Afasto-me das tragédias gregárias
Abasto-me da minha própria nobreza.

No afastamento, no retiro, na solidão,
Encontro-me no meu mais alto voo
E em nada me incomoda os olhos alheios
Que observam a minha ocultação no universo
Pois tenho, o privilégio de pertencer a mim mesma.

As coisas insuportáveis para mim são:

·         Participar de reuniões sem objetivo e intermináveis;
·         Assistir palestras sem abertura para questionamentos e debates;
·         Entrar no quintal de parente ou amigo e me deparar com o cachorro solto e, ainda ter de ouvir a célebre frase - "não tenha medo, ele não morde";
·         Observar pessoas que riem de algo que não tem graça só para ficarem bem no contexto;
·         Conversar com alguém que, para ser feliz, depende somente das minhas ideias e ações;
·         Ter por perto gente que conhece o meu caráter e só se liga nos meus erros;
·         Aceitar pessoas incrédulas diante das minhas verdades e das verdades absolutas;
·         Ouvir de alguém que erra, falar que errou, por minha culpa;
·         Engolir elogios duvidosos;
·         Fitar nos olhos de quem fala e este disfarçar o olhar;
·         Ser acusada constantemente de uma atitude não crassa, mas infeliz, que cometi no passado;
·         Torna-me para alguém que se dizia amiga, a pior pessoa do mundo, quanto não fingi civilidade;
·         Receber telefonemas de quem não tem nada para fazer e, ter de escutar assuntos recursivos e infindáveis;
·         Telefonar para essa mesma pessoa que só pode me atender quando está atoa ou sem companhia;
·         Ter o amor de uma pessoa desde que eu seja quem ela imagina e não quem sou;
·         Aceitar viver a vida dos outros e não poder ser eu mesma.

domingo, 10 de agosto de 2014

À filha

Sabemos filha, que não nos pertence
Unimo-nos por laço e por nó
O nó é o amor que lhe facultamos naturalmente
O laço permite o desate de sua alma impenetrável
Dos seus pensamentos e sonhos
Que ao se realizarem, farão parte do todo
Na formação singular de sua personalidade.
Nós somos os arqueiros, você a flecha
Nós a direcionamos para o alvo que achamos mais propício
Mas, você é quem conduzirá a trajetória à vida.
Nesse curto caminho que viveu
Mostrou-nos que adquiriu sabedoria
E criou para si valores merecedores de estima
Dos quais nos orgulhamos imensamente
E só temos de agradecê-la, filha.

Amamos você.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Vida otimizada

Nunca me arrependo do que decido
Mesmo que impreciso, inexato
O meu ótimo é ajustado
No melhor que faço.

Repugno a letargia
Não basta uma concepção
É escolha num conjunto determinado
De elementos possibilitados à apreciação.

É uma exploração contínua
Num espaço assegurado
Arrefecimento simulado
Em minha assídua busca tabu.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O preço da minha ausência

Quanto vale a minha ausência?
Vale muito com certeza
Vale conluios inquestionáveis
Dos disco voadores a espreita.

Quanto vale a minha ausência?
Vale aos óvnis adiáfanos
Que por entre nuvens escuras
Expõem  translúcidos a imprudência.

Quanto vale a minha ausência?
Vale a minha sabedoria no anonimato
De  atos e fatos que ressurgem encolerizados
E mitigam a minha dor.

Quanto vale a minha ausência?
Vale saber tão naturalmente
O que floresce da demência,
Entre as estrelas mais brilhantes
Estão os ufos ainda mais reluzentes.

Sofisma

Ser recebido no calor de um abraço
Grudento como velcro
E ser capaz de fazer self-portrait
Tanto repudiado
É ter a certeza plena
Da felicidade mais obcena
De embriagar sentimentos passados
Que não saem mais de dentro
Do coração que um dia fora
Totalmente dilacerado.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Pedra profana


Fiz-me a água doce
Fiz-me a brisa mais suave
Fiz-me a temperatura mais amena
Fiz-me a pessoa mais serena
e de nada adiantou.
Hoje sou pedra
Sou muro, onde habitam lamúrias
Das gentes que não aproveitaram da brandura
Que tanto ofertei.
Hoje sou pedra antiga, muda e cega
Onde muita gente se debruça
Cada um com a sua inútil razão.
Ouço o que gritam em silêncio
Vindo de corações ocos
Capazes de cair no buraco negro
Do universo em constante mutação.
Mas sou muralha consistente
E agora só guardo
No meu silêncio profundo
Os sentimentos imundos do mundo.