Maria da Penha

Maria da Penha

sábado, 9 de março de 2013

Homem de rua

Depois de anos continuava ele ali sentado
Sempre a observar o nada
Ou a pedir uns trocados.
Sujo, imundo e maltrapilho,
Na sua liberdade ambulante
De súbito viu distante
Um brilho desconcertante.
Levantou com certa preguiça dada pela fome,
Caminhou lentamente,
Abaixou e pegou o diamante.
Ele não tinha por certo o que era,
Mas a intensidade do brilho
Fez guardar nos seus trapos.
Assustou-se com o que ali perto ocorria,
Aquietou-se nos seu espaço.
Era uma batida policial por um assalto.
Mandaram que se levantasse
E acharam a pedra maldita.
Perguntando quando a roubara
Ele nem chegou a abrir os lábios,
Colocaram nos seus pulsos e pés as algemas.
E o levaram ao delegado.
O desgraçado apanhara e fora preso,
O pobre que nem sabia o quanto valia
A pedra que achara ao acaso.
Agora lá sentado a olhar para as paredes
Que nunca tivera um dia,
Por causa de uma estranha pedra brilhante
Que para ele pouco valia.
A pedra lhe tirou a vida de vagamundo
A única liberdade que tinha.

Pernambuco

Conhecer Pernambuco é giro, como se diz na boa gíria de Portugal.
Baila-se cavalo marinho pra esquecer-se a lida negreira
Nos batentes dos pandeiros, da rebeca e do ganzá.
Na colheita e na caçada indígena
A velocidade impetuosa do ganzá a arrebentar maracatu.
Pólvora, cachaça e limão.
Mamulengo, que delícia, dá pra ri e pra chorar.
Da quadrilha, do maxixe e do galope, vem o frevo se exaltar.
É alegria da tesoura da pernada do carrossel nos passinhos a sublimar.
Tem a coco a pastoril a ciranda
É pra tudo o carnavá.
Além da linda Oh! Linda tem Recife
De arrecifes de corá.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O rato e a ratazana

A ratazana encontrava-se quieta em seu mundo e cuidando de suas crias, quando um rato começou a chateá-la.
            O rato insistentemente e sem pudor a seguia por todos os lados, até que um dia ela cedeu à sedução. Que arrependimento meu Deus, que arrependimento.
            Ele prometeu à ratazana estudo, trabalho, casa e diversão. E lá se foi a ratazana para além mar.
            Trabalhou e estudou a danadinha para manter casa e diversão e se tornou a queridinha da família do ratão.
Enquanto ela fazia, ele ganhava atenção, tinha a seu lado sua obra em construção.
Mas o danado do rato era mesmo um traidor, corria atrás das gatas para mostrar o seu potencial, mas alisava a ratinha, para manter seu arsenal.
A ratazana se cansou e fugiu como animal.
O rato revoltado achou-se molestado pela ratinha sofrida.
Não cumpriu com as promessas e ainda se sentiu traído. Começou o inferno meu Deus, que inferno!
Perseguiu a ratinha e a condenou por tudo, era o santo rato querendo se vingar.
Agora a família do ratão se revoltou e com toda a razão, pois o queridinho do rato agora fora abandonado.
A ratazana sofreu nas palavras do rato como se a condenasse à fogueira, mesmo assim, a ratazana persistente não o deixou abandonando.
O rato sabe de tudo e onde se encontra a ratazana, mas quando se viu afoito tentou ludibriá-la, mas como boa ratazana não deixou mais se vergar, pois sabendo que lidava com um rato, a ratoeira ele iria armar.
Armou bem a ratoeira, mas a ratazana se livrou quem caiu na ratoeira foi o rato e a gata que ele amansou.
Pobre rato vagabundo que agora se esconde embaixo dos pelos da gatona sobre a ratoeira que ele mesmo armou.
Rato e ratazana se entendem, sabem bem onde se esconder, mas ratazana com felino não ha um bem querer.
A gatona é mais forte e o futuro mostrará, mais vale rato vagabundo com rata vagamundo que felino no altar.
Hoje a ratazana vive como dantes, curtindo suas crias e escrevendo estórias de uma história sem amor de dois ratos traiçoeiros, porém da mesma cor. 
Felino? “inheco” no rato.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Virtualidade

A vida, amigos, amantes, exposições,
Tudo virtual.
As músicas, poesias, filosofias, psicologias,
Tudo virtual.
Os sonhos, as flores, as paixões e os amores,
Tudo virtual.
As religiões, as crenças os mitos e ritos,
Também virtual.
Ódios, rancores, dissabores,
Mundo virtual.
E quando tudo isso foi real?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Maria da Penha Boina - Autoestima

Sempre achei que fosse censurada pelos meus defeitos
Comecei a mensurá-los para corrigi-los
Não os defeitos físicos, estes são o meu patrimônio.
Quanto mais corrigia as minhas imperfeições morais
Mais repreensão acontecia.
Demorei a compreender tanta condenação
Foi o tempo que me elucidou
Não existiam intrigas sobre as minhas deformidades
A aversão que de mim sentiam
Não eram sob o ponto de mira que eu imaginava
Os agulhões estavam direcionados eram para a minha excelência.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Lembranças perfeitas II

O semáforo da ponte no lugar desconhecido não dá o verde, e a espera é longa?
Não sabíamos que deveria apertar o botão.
Estamos no carro há horas e temos fome e sem dinheiro?
Comemos pão com chouriça.
A sapateira é só moscas?
Não se come sapateira a beira rio.
Os portais dos castelos e outras obras milenares são magníficos?
Esquecemos novamente da máquina fotográfica.
As idas de férias são cansativas e curtas?
Mas vale a pena o oceano com um espeto de churrasco a pescar,
Ou um mergulho com os corpos equipados a beira mar.
A lida dos dias é exaustiva?
Mas compensa no fim da noite.
O frio é insuportável na serra?
Mas a profissão é o resgate.
Repetimos as idas nos mesmo sítios?
Mas as cores são sempre diferentes.
As músicas no carro podem vir do rádio ou CD e se repetirem?
Mas é a hora de dizer que nos amamos.
A Leiria ficou próxima a Coimbra?
É o prazer da espera.
Cada percebe e ameijoa ingerida?
Tudo sabe bem.
Cada vitrine apreciada?
É tudo lindo com a loja fechada.
Cada compra realizada para a casa?
Horas e horas de apreciação.
Cada taça de vinho consumida sentados à mesa da cozinha com os corpos nus?
É o diálogo doravante do delírio dos melhores amantes.
Cada pescaria sem nexo no frio intenso?
A melhor das pescarias.
Sentados na areia da praia depois de consumirmos carapau seco?
Que viagem!
Os bocejos no carro no fim da noite?
Uma praga que pega.
E depois de tudo as lembranças,
E ri-se e ri-se sem parar, das mais fúteis e idolatradas conquistas.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sublevação

Não te espante Doutor
Essa é só a minha dor,
Mas não toque o dedo na ferida
São os ais... Da minha vida.
Observa Doutor
As minhas cordas vocais
Não são como as cordas das harpas
São pregas fenomenais.
Os ais que grito e ouves
São bem postos
Não duvide, eu não gosto,
São ais... De toda uma Nação.
Não se engane Doutor
Diagnosticando essa minha rouquidão.
Terás de dar o mesmo diagnóstico
A toda população.
Admita doutor
Que será muito difícil encontrar
Este mesmo sintoma
Em outros Doutores, discricionários.
Encontro-me doente Doutor?
Os meus ais não serão escutados?
Não existe paliativo para essa dor?
Ah! Doutor
Se a dor vai continuar
Vou subir no mais alto dos montes
Serão tantos os meus gritos em ais
Emitindo ondas sonoras
Intensamente vibrantes
Que perturbarão as cordas das harpas
Fazendo-as tocar
Músicas infernais.