É hora de relatar a minha verdade, tudo junto e embolado.
Sei lá a quem possa
interessar, mas é assim, a minha verdade é sempre uma mentira para mim.
Sempre digo o que sinto verdadeiramente para os outros,
mas para mim mesma, sempre minto.
Escondo de mim as coisas boas da vida, tudo o que possa
me levar ao êxtase.
Tenho medo da verdade, ainda que pareço uma pessoa forte,
sou mais fraca do que alguém possa imaginar.
São tantos os meus medos que não tenho como expor.
Não faço o mal, não desejo o mal. Se não posso ter uma opinião
para o bem, me calo.
Entrego-me as causas de pacificação, mas minto para mim.
Minto para mim mesma sem misericórdia, sem paz interior.
Tudo que é mais para fora é menos para dentro.
Eu fujo de mim e doo tudo de melhor que na presença de
mim mesma não consigo me dar.
Não aprendi a conviver comigo, não sei quem sou, não me
conheço.
Meu cérebro é tão confuso que borbulha.
Sou um espectro de mim mesma.