Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Colação de grau

 À filha e irmã (2025)

Sua trajetória é uma construção singular, erguida com inteligência, perseverança e um apetite insaciável pelo saber. Desde sempre, soubemos que seu olhar ia além do óbvio, que sua mente inquieta não se acomodaria diante de respostas fáceis, mas buscaria aprofundar-se, questionar, transformar.

Hoje, ao celebrar sua formatura, contemplamos não apenas a engenheira que se lapidou no rigor da ciência, mas a pensadora incansável que fez de cada desafio um degrau e de cada conquista um novo ponto de partida. O ingresso no mestrado apenas reafirma o que sempre esteve impresso em sua essência: o desejo inabalável de ultrapassar limites e de expandir os próprios horizontes.

Filha, irmã, sua caminhada nos enche de orgulho. Em você vemos não apenas a força de quem constrói o próprio destino, mas também a inspiração que contagia e impulsiona aqueles que têm a sorte de compartilhar sua jornada.

Seu percurso é testemunho de que talento e esforço, quando entrelaçados, tornam-se forças irreversíveis. E nós, que acompanhamos seus primeiros passos, seguimos agora admirando seu voo, certos de que ele não conhece fronteiras.

Com orgulho e gratidão, celebramos você.

A idade certa

 Cheguei àquela idade em que os aforismos ganham vida própria, como pequenos faróis a iluminar o caminho que, enfim, escolhi para mim. Não descobri tudo — longe disso —, mas descobri que não preciso mais carregar o peso das expectativas alheias. A vida, como dizem, é breve demais para ser pequena. E eu, agora, entendo o que isso significa.  

Cheguei à idade em que o "não" sai com a leveza de quem sabe que dizer "sim" a si mesma é o maior dos luxos. Já não me importo em ser incompreendida, porque entendi que a única compreensão que importa é a que tenho de mim mesma. "Conhece-te a ti mesma", dizem. E que descoberta libertadora!  

Cheguei à idade em que o tempo não é mais um tirano, mas um aliado. Já não conto os dias, mas os saboreio. Cada momento é como um aforismo: breve, mas denso de significado. "A vida é o que acontece enquanto você faz planos", dizem. Pois bem, agora eu vivo os planos, e não apenas os faço.  

Cheguei à idade em que os erros não são fracassos, mas lições. E as lições, por sua vez, tornam-se sabedoria. "Queda após queda, a mulher aprende a caminhar." E eu, que já caí tantas vezes, agora caminho com passos firmes, porque sei que cada tropeço me trouxe até aqui.  

Cheguei à idade em que faço o que realmente gosto, não porque seja fácil, mas porque é autêntico. E a autenticidade, como dizem, é o único caminho para a paz interior. "Sê fiel a ti mesma", ecoa o velho conselho. E eu, finalmente, sou.  

Cheguei à idade em que os aforismos não são apenas palavras, mas a própria essência da minha existência. E, como dizem, "a vida é uma obra de arte que cada um pinta com suas próprias cores". As minhas, agora, são vibrantes, porque escolhi pintar com o que realmente amo. E isso, meus amigos, faz toda a diferença.

Religião

 Por que questiono a religião: uma reflexão pessoal

A religião, em suas diversas formas, tem sido uma força poderosa ao longo da história da humanidade. Ela moldou culturas, inspirou arte e ofereceu conforto a milhões de pessoas. No entanto, não posso ignorar os aspectos que me levam a questionar seu papel na sociedade atual.  

Não me identifico com a religião porque, muitas vezes, ela se torna uma doutrina rígida, impondo regras e dogmas que limitam a liberdade individual de pensar e agir. A religião política, por exemplo, me preocupa profundamente, pois transforma crenças espirituais em ferramentas de controle e divisão, alimentando conflitos e guerras em nome de uma suposta "verdade absoluta".  

Além disso, a história nos mostra como a religião, em alguns momentos, se opôs ao progresso científico, perseguindo pensadores e impedindo avanços que poderiam beneficiar a humanidade. Livros foram queimados, ideias foram suprimidas e a iconoclastia destruiu obras de arte que carregavam séculos de história e cultura.  

Não nego que a religião possa trazer sentido e conforto para muitas pessoas, mas acredito que é essencial questionar suas estruturas de poder e suas consequências. Prefiro buscar respostas na razão, na ciência e no diálogo aberto, onde ideias podem ser debatidas sem medo de represálias ou dogmas.  

Acredito em uma sociedade onde a espiritualidade, se existir, seja uma escolha pessoal e não uma imposição. Onde a diversidade de pensamento seja celebrada, e onde o progresso humano não seja impedido por medo do desconhecido.  

Este é o meu posicionamento, e respeito profundamente aqueles que pensam diferente. Afinal, é no diálogo e no respeito mútuo que construímos uma sociedade justa.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Amor algorítmico

No futuro distópico, meu amor,  

serás um código, eu, um algoritmo,  

nosso romance, uma função de valor,  

calculada em qubits, sem nenhum critério.  


Teu coração, um chip quântico,  

pulsa em superposições, frio e exato,  

enquanto meu peito, um circuito vazio,  

busca teu sinal no infinito abstrato.  


Prometemos eternidade em nuvens quânticas,  

mas nossa conexão falha, a rede oscila,  

o 6G do amor é instável, desigual,  

e o GPS da paixão nos leva à ilha  


de um mar de big data, onde afogamos  

nossos sentimentos em deepfakes vazios,  

enquanto IA generativas nos declamam  

poemas de amor, pré-treinados, sombrios.  


Ah, meu amor cibernético e irônico,  

será que ainda há espaço para o humano?  

Ou somos apenas mais um código eletrônico,  

perdidos no loop de um futuro insano?  


Talvez, entre tantos qubits e labirintos,  

ainda reste um sopro de verdade:  

um erro no sistema, um laço antigo,  

que nos salve da fria eternidade.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O fundamentalista

 O indivíduo fundamentalista não debate, prega. Sua convicção não admite questionamentos, pois não há espaço para dúvidas em sua visão de mundo. Quando descobre uma nova teoria ou lê um livro que reforça suas crenças, sente-se investido da missão de convencer e converter. Para ele, discordar não é um direito, mas uma resistência à verdade que ele acredita possuir. Sua certeza é inabalável, não porque seja bem fundamentada, mas porque é impermeável a qualquer argumento contrário. Diante dele, qualquer tentativa de diálogo se torna um monólogo – e um monólogo onde apenas ele tem voz.

A única forma de escapar do ciclo exaustivo de suas pregações é concordar superficialmente e sair de cena. Não há espaço para reflexão conjunta, apenas para a submissão ou para a fuga.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Faces caídas

 No palco frio da hipocrisia,

amizades nascem sem raiz,
crescem à sombra da cortesia,
mas morrem sempre por um triz.

Sorrisos largos, gestos belos,
promessas feitas sem calor,
olhares falsos, frios, amarelos,
vestidos todos de impostor.

Enquanto a cena se desenrola,
fingem afeto, juram ser leais,
mas basta a queda da coroa,
e os rostos mostram seus sinais.

E quando enfim saio de cena,
o brilho some, não há mais voz,
a falsa amizade se condena,
só resta o eco do vácuo atroz.

Tantos anos, tantas trilhas,
e ainda assim não compreendi,
como há almas tão vazias,
que somem quando já não há o que fingir.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Libertação do ser

Quando o véu se esgarça,  

e o mundo perde suas cores emprestadas,  

a liberdade não é um rio,  

mas o oceano que não pede licença  

para ser vasto, profundo, salgado.  


Não há mais rédeas,  

nem mapas desenhados por mãos alheias.  

As regras, outrora prisões,  

agora são cinzas ao vento,  

e os valores, sombras desbotadas,  

refletem apenas o vazio que habita  

o cerne de tudo.  


É aqui, no abismo sem fundo,  

que o ser se revela:  

niilista, agnóstica,  

desnuda de certezas e dogmas.  

Não há mais o ter que,  

apenas o poder ser.  

E ser é existir sem véus,  

sem máscaras,  

sem a necessidade de pertencer  

a qualquer coisa que não si mesma.  


A liberdade chega como um silêncio,  

um eco que não responde,  

um horizonte que não promete.  

E no meio desse vazio,  

o ser se encontra,  

não como um ponto fixo,  

mas como uma dança contínua,  

uma chama que arde sem motivo,  

sem destino,  

apenas porque existe.  


E assim, no caos da existência,  

no deserto sem deuses ou sentidos,  

o ser se faz inteiro,  

não pelo que tem,  

mas pelo que é:  

livre,  

desamarrada,  

e infinitamente sua.  


Maria da Penha Boina Dalvi