Maria da Penha

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

 

Por que os homens criaram deuses? E os deuses, teriam também um deus?

Desde os primórdios, o homem olha para o céu e vê o desconhecido. A lua que cresce e mingua, o trovão que rasga a noite, o sol que some no horizonte e sempre retorna. O fogo que aquece, mas também devora. O mar que acalma, mas também engole. Diante do caos e da incerteza, a mente humana cria sentido onde há mistério. Assim nasceram os deuses.

Os primeiros deuses foram forças da natureza personificadas. O trovão virou Zeus, o sol tornou-se Rá, os rios sagrados ganharam espíritos guardiões. O homem atribuiu vontades e humores às forças que não podia controlar, esperando aplacá-las com preces e sacrifícios. O medo do desconhecido deu origem ao divino.

Com o tempo, os deuses deixaram de ser apenas manifestações naturais e passaram a refletir as próprias contradições humanas. Tornaram-se reis nos céus, guerreiros, juízes, arquitetos do destino. A religião passou a ser mais do que um consolo — virou poder. Quem falava em nome dos deuses falava em nome da ordem. Ditava leis, justificava conquistas, controlava povos.

Mas se os homens criaram deuses para dar sentido à vida, será que os deuses também criaram seus próprios deuses? Se existissem, teriam as mesmas dúvidas? Olhariam para além de seus reinos divinos e se perguntariam quem os fez? Talvez o próprio conceito de divindade seja uma ilusão em cadeia infinita, onde cada ser superior se vê pequeno diante de um mistério maior.

Ou talvez o último deus da sequência seja o próprio vazio — aquele que não tem quem o criou, mas que é a origem de todas as perguntas.

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