Maria da Penha

Maria da Penha

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Taciturnidade

Zetalhões de poesias a disposição.
Quanta literatura
Livre para ler.
Tanta manifestação
De falsas virtudes.
Tenho saudade dos filmes mudos
Estes sim, diziam muito.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Saída da vitrine

Não pense que eu vou dizer um sim
Só para te agradar.
Não pense que o meu não
Será para te prejudicar.
Só pretendo ser assertiva
Não estou no mundo para satisfazer.
Não sou perfeita
Para que todos me admirem.
Não tenho vaidade ao ponto
De querer ser unanimidade.
Não gosto do que não gosto
Não vou admirar o que não admiro.
Não tenho que aceitar a tua opinião
E isto não me causa constrangimento.
Meu íntimo é libertário
Igualdade para todos.
Não preciso de aceitação
Escravizando-me por opiniões.
Parece sentimento tirano
O sincero é ofensivo.
Mas, se assim eu não pensasse,
Seria uma hipócrita só para ter
A tua aprovação.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Amiga anaconda

Encantei-me por uma anaconda
Acabei por adotá-la
Alimentei-a com animais inofensivos
Vivos.
Com o tempo fui me aproximado
Toquei-a, escamosa e fria,
Grande, aconchegante,
Era tudo que eu queria.
Começamos as nos enroscar
Eram toques suaves sem malícias.
Nesses anos de convivência
Encontrávamos sempre a luz do dia.
Numa noite fria ela veio até a mim
Como o remanso de um rio arrefecido
Lento e vagaroso
Esfregando sua textura
Como um gato preguiçoso.
Deixei-a enrolar em meu corpo,
Que de mansinho sentia a suas carícias.
Fui sentindo-a bem devagar
E encontrei-me em ardilosa companhia.
Seu abraço estava ficando cada vez mais apertado
Meus pelos ficaram eriçados
Os ossos com uma sensação desagradável.
Ei! Amiga anaconda! Gritei!
Foi um lapso, não te alimentei.
E ela não perdoou
O meu engano involuntário
Pela falta de comida.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lápide

Lapidei durante toda uma vida
As coisas mais coloridas
Nas artes que criei.
Hoje, já quase morta,
Em preto e branco vou tentar
deixar em minha futura porta
Os dizeres que nunca pronunciarei.
- Aqui jaz uma niilista agnóstica que
almas fez sofrer e nem se deu por isso-.
Nenhum dizer será mais importante
Incrustado no granito frio
Que também da natureza vem.
E se abrirem a minha nova porta
Não terei como recebê-los, pois
em nenhum lugar estarei.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Novo tempo

Não estamos mais no tempo dos coronéis
Naquele tempo que o homem tudo podia
Em que as mulheres escravizadas
Aceitavam as regras por intimidação,
As pobres Amélias consumidas.
Ainda existe por aí, homens coronéis,
Que vivem no passado
Achando que indo aos bordéis
Ainda serão reverenciados.
Pobres ignorantes do planeta
Irão ficar somente embriagados.

Armadilha

A dor moral é a pior das dores
O estomago passa a ser uma úlcera
Veneno que o aniquilou.
São acusados,
O importunante é o importunado
Pois existem os que só veem
Apenas um dos lados.
Com as atitudes malogradas
Arma-se o alçapão
E tolhe toda a sorte que poderia advir.

Elegância

Senta-te a mesa mais sofisticada
Com os talheres postos à francesa,
São tantos os adornos sobre o corpo
Que confunde o brio da nobreza.

O que queres dizer com tanta altivez?
Guardados nos inúteis pensamentos acres
Com gritos no olhar silencioso
E semblante de vileza?

Perdeste a faculdade de julgar,
Não sabes conceber a elegância
Que se apresenta como atributo mais sutil
Na mímica da prudência e da leveza.