Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Diálogo aos celulares a brasileira que ouço todos os dias e, é mais ou menos assim:

Tô no culto falando cum pastô
Cê num vem não?
Tem de vim, ora pra Jesus.
Ai! Só Jesus, pra intender ocê.
Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chave
Aí tem muito ladrão drogado.
Dispois, meu namorado vem buscá nóis.
Então nóis vai até ao shopem.
Agente podemos olhá as vitrini.
Dispois ele leva nóis imbora.
Ispera, to ouvindo minha patroa.
- Num sei não onde tá-
Já que ce num sabe se vem
Coloca a comida pra esquentá
E o fango no fono.
Tem cuidado num si quemá.
Aí quando eu chegá
Posso cumê
Lá no shopem e é tudo caro
E nóis num tem dinheiro pra gastá.

Prostração

Os teus olhos estão vermelhos.
E por que choras?
Perdeste o teu amor?
Já refletiste porque perdeste?
Achou que tiveste dado tudo de ti
Mas não foi o suficiente?
Agarraste no inútil pensamento
Que o concebido
Já era teu?
Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratos
Trará as forças para esquecer?
Olhará para ele
O quê verás?
Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhos
É a que já está registrada nos teus neurônios.
E todo o enxoval que te acompanha
Terás de queimar ou quebrar?
Faça todas as tuas cenas por agora
Destroçando tudo o que é material.
Estás a te sentir mais leve?
Mas não imaginas que em breve
Tudo que colocares na tona
Irás desaparecer nos rios de Goa
Levados ao mar.
Com o tempo e o oceano revolto
Devolverá os pertences
Devastados nas areias das praias.
Em todas elas encontrarás os pedaços
E toda a fantasia recomeçará.
Não, não é bem assim que te livrarás.
Acho que perdeste o senso
Não poderás reduzir a cinzas as memórias
De tudo o que te fez sonhar.

Metamorfose

Abriste a caixa de Pandora
E agora, o que será de mim?
Faça algo que acalante esses males
Que me está a consumir.
Puseste-me neste desespero
Nesta desconfiança bombástica
Neste desconforto intolerável.
Sou essa borboleta pequena
De asas incontroláveis
Incerta dos desejos.
Caça-me com a tua rede entomológica
Tira-me dessa dança louca
A viver atrás de uma da lanterna iluminada.
Quero acreditar na luz e não consigo
Ela pode ser a minha maior inimiga
Mesmo assim a sigo
E na armadilha posso cair.
Desafoga-me dessa desconfiança
Sem arrogância
Com palavras de esperança.
Faça de mim os teus desejos
Não disfarce as verdades com lampejos
Para fazer-me acreditar.
Saia do teu invólucro de lagarta
Transforma-te em borboleta
Venha me beijar.

E agora?

O que devo fazer agora?
Lutar pelo que foi perdido?
Ficar mais pobre de espírito?
Jogar um jogo de cartas?

Empinar pipas na praça?
Movimentar a pedra no xadrez?
Olhar para a calopsita na gaiola?
Ficar por mais tempo livre?

Ler um livro em português?
Dominar a fúria que me consome?
Mirar o míssel para além do horizonte?
Colocar mais dinheiro no cofre?

Mandar flores por e-mail?
Escrever cartas românticas?
Ridicularizar as instâncias?
Fazer mágicas?

Beber uma bebida forte?
Olhar para o teto sem concentração?
Sentir aversão por tudo isso?
Enfrentar a flecha do inimigo?

Com muita coragem
Ficar na forca de frente para a multidão
Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia
Que estão a festejar
Com o semblante mais brando
Escutando os risos e aplausos silenciando
Na minha mais sublime sensação
O ápice que se agiganta para minha bem-aventuraça
Que estou a desfrutar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Confortavelmente

Escuta, falo baixinho...
Estás confortável?
A dor está menos intensa?
Tente um sinal para que eu perceba
Faça um movimento com os olhos
Se não consegue por outra maneira.
Deseja que eu levante mais a cama?
Quer ver a luz da janela?
Por favor, dê-me um sinal,
A minha ânsia e muita
A sua não é?
Como é? Agora estou mais curiosa,
Como se sente agora?
Tem luz, tem frio ou calor?
Tem cor?
Estás confortavelmente
Em sua nova dimensão?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Vulgarização virtual

Há anos tudo começava
De frente ao um computador off-line
A necessidade era inevitável
Para comunicar online.

Primeiro contato carbon copy plus
Foi delirante
Implacável
No computador remoto conectado.

Tornou-se pouco e restrito
O mais abrangente aconteceu
VDOPhone em rede local
E na Internet só contato internacional.

Que delírio o NetMeeting
A particularidade do status
Pregava-se peça em todos
Por IP fazia-se conexão.

O mais se tornara necessário
Mais pessoas a partilhar, vídeos e conversas para discutir.
O CU-SeeMe de modo síncrono
Com as várias faces a rolar no écran.

O ICQ abriu caminhos
Para o mundo partilhado
Ficando um pouco sem essência
Perdeu-se o mistério e o prazer.

Hoje o mundo compartilhado
SixDegress, MSN, orkut, facebook, twitter,
MySpace, Cyworld, linkedin, flickr, youtube, entre infinitos outros
Ficando em cumplicidade o cyber espaço.

Que saudade do meu VDO,
Do meu mundo assíncrono
No meu e-mail correspondido
Que hoje não existe mais.

Quero voltar a escrever cartas
Em papel decorado e aromatizado
Que levam dias para chegar
Pelos correios desgastados.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Quem és?

Quem és tu?
Em que mundo vives?
Quais são os teus sonhos?
O que queres?

Porque tropeças tanto?
Porque não pulas os obstáculos?
Não vês que estás a cair
A definhar e a sumir!

Fala alguma coisa
Diga o que queres
Mate o teu medo 
Estirpe o teu ódio.

Não mates a mim
É o que fazes um pouco a cada dia.
Sejas menos cruel.
Dá-me mais alegria.