Maria da Penha

Maria da Penha

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Metamorfose

Abriste a caixa de Pandora
E agora, o que será de mim?
Faça algo que acalante esses males
Que me está a consumir.
Puseste-me neste desespero
Nesta desconfiança bombástica
Neste desconforto intolerável.
Sou essa borboleta pequena
De asas incontroláveis
Incerta dos desejos.
Caça-me com a tua rede entomológica
Tira-me dessa dança louca
A viver atrás de uma da lanterna iluminada.
Quero acreditar na luz e não consigo
Ela pode ser a minha maior inimiga
Mesmo assim a sigo
E na armadilha posso cair.
Desafoga-me dessa desconfiança
Sem arrogância
Com palavras de esperança.
Faça de mim os teus desejos
Não disfarce as verdades com lampejos
Para fazer-me acreditar.
Saia do teu invólucro de lagarta
Transforma-te em borboleta
Venha me beijar.

E agora?

O que devo fazer agora?
Lutar pelo que foi perdido?
Ficar mais pobre de espírito?
Jogar um jogo de cartas?

Empinar pipas na praça?
Movimentar a pedra no xadrez?
Olhar para a calopsita na gaiola?
Ficar por mais tempo livre?

Ler um livro em português?
Dominar a fúria que me consome?
Mirar o míssel para além do horizonte?
Colocar mais dinheiro no cofre?

Mandar flores por e-mail?
Escrever cartas românticas?
Ridicularizar as instâncias?
Fazer mágicas?

Beber uma bebida forte?
Olhar para o teto sem concentração?
Sentir aversão por tudo isso?
Enfrentar a flecha do inimigo?

Com muita coragem
Ficar na forca de frente para a multidão
Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia
Que estão a festejar
Com o semblante mais brando
Escutando os risos e aplausos silenciando
Na minha mais sublime sensação
O ápice que se agiganta para minha bem-aventuraça
Que estou a desfrutar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Confortavelmente

Escuta, falo baixinho...
Estás confortável?
A dor está menos intensa?
Tente um sinal para que eu perceba
Faça um movimento com os olhos
Se não consegue por outra maneira.
Deseja que eu levante mais a cama?
Quer ver a luz da janela?
Por favor, dê-me um sinal,
A minha ânsia e muita
A sua não é?
Como é? Agora estou mais curiosa,
Como se sente agora?
Tem luz, tem frio ou calor?
Tem cor?
Estás confortavelmente
Em sua nova dimensão?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Vulgarização virtual

Há anos tudo começava
De frente ao um computador off-line
A necessidade era inevitável
Para comunicar online.

Primeiro contato carbon copy plus
Foi delirante
Implacável
No computador remoto conectado.

Tornou-se pouco e restrito
O mais abrangente aconteceu
VDOPhone em rede local
E na Internet só contato internacional.

Que delírio o NetMeeting
A particularidade do status
Pregava-se peça em todos
Por IP fazia-se conexão.

O mais se tornara necessário
Mais pessoas a partilhar, vídeos e conversas para discutir.
O CU-SeeMe de modo síncrono
Com as várias faces a rolar no écran.

O ICQ abriu caminhos
Para o mundo partilhado
Ficando um pouco sem essência
Perdeu-se o mistério e o prazer.

Hoje o mundo compartilhado
SixDegress, MSN, orkut, facebook, twitter,
MySpace, Cyworld, linkedin, flickr, youtube, entre infinitos outros
Ficando em cumplicidade o cyber espaço.

Que saudade do meu VDO,
Do meu mundo assíncrono
No meu e-mail correspondido
Que hoje não existe mais.

Quero voltar a escrever cartas
Em papel decorado e aromatizado
Que levam dias para chegar
Pelos correios desgastados.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Quem és?

Quem és tu?
Em que mundo vives?
Quais são os teus sonhos?
O que queres?

Porque tropeças tanto?
Porque não pulas os obstáculos?
Não vês que estás a cair
A definhar e a sumir!

Fala alguma coisa
Diga o que queres
Mate o teu medo 
Estirpe o teu ódio.

Não mates a mim
É o que fazes um pouco a cada dia.
Sejas menos cruel.
Dá-me mais alegria.

Ódio II

Amo alimentar o meu ódio
Quero beber deste ódio eternamente.
É ele que nutre a minha existência
Sem essa lâmina não consigo enxergar a indiferença.
Na indiferença dos outros
Encontro a minha sensatez
A minha filosofia do amor que pensa
Na ciência que investiga
No estudo que analisa.
Ao me alimentar do ódio
Estudo a paixão que desequilibra
O orgulho que enlouquece as pessoas
O sensualismo que envenena.
Necessito do ódio para saber
Lidar com a indiferença.
Pode vir de terno, vir com olhos, boca, coração e cérebro
Nada, nada mesmo dará conta dessa presença
Muito menos da ausência. 
Por isso preciso de beber mais ódio
Pois é neste ódio que preciso de um coração
De uma frieza, de um raciocínio
Mesmo que doente.
Preciso aprender, e o ódio é a matéria-prima dessa ânsia que alimento.
Este alimento está no objeto do ódio
Alimenta o meu rancor, a minha ira
O meu pouco humor e
A minha pouca sabedoria para entender
E aturar.
Quero o ódio para mim, dessa forma
Nunca serei indiferente.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Mulher de escorpião

Profunda e misteriosa
Com seus olhos penetrantes
Até ao acender um cigarro
Magnetiza qualquer homem.
Mas o mesmo olhar que enfeitiça
Descobre os segredos dos mais reservados.
Os seus elogios, para ela não cogitados
Serão analisados para as verdadeiras intenções.
Sua fúria incontrolável
Ciumenta e possessiva
Profundamente vingativa.
Perdoa com facilidade
Atos e fatos provados não intencionais
E manda no relacionamento.
Se existe uma inquietação por traí-la
Não há compaixão por ela medida.
Irá alimentar várias mentiras
Para fazê-lo sofrer até o chão.
Manhosa como uma gatinha
Carente fragilizada
Ao perder o controle das emoções
O furacão entra em atividade.
Ela poderá odiar amargamente
Sua tamanha dedicação
E ignorá-lo totalmente
Depois de tê-lo destruído.